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Drogas. O caminho da volta

Série especial da TVC mostra a estrutura montada por igrejas de Três Lagoas para a recuperação de dependentes químicos

Por Tatiane Simon
14/02/2016 • 11h30
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“O que parecia ser colorido era, na verdade, um mundo em preto e branco”. O depoimento é de um jovem de 22 anos, que ficou por cinco meses internado em um dos quatro centros de recuperação a dependentes químicos existentes em Três Lagoas.

Gustavo teve o primeiro contato com a droga aos 15 anos em uma cidade do interior de São Paulo, onde residia. “Bebida alcoólica foi a porta de entrada para o vício. Depois veio o cigarro, a maconha, a cocaína e, por último, o crack, onde me afundei”, contou.

O relato deste ex-dependente químico faz parte da série de reportagens “Drogas. O caminho da volta” exibida em cinco capítulos na TVC - Canal 13 nos telejornais Bom Dia Três Lagoas e TVC Agora e no programa de variedades A Casa é Sua

A série mostrou depoimentos de usuários de drogas que lutam contra o vício, as opções de tratamento existentes em Três Lagoas e o desabafo de mães angustiadas.  

A medicina atesta que um dos efeitos do álcool é deixar a pessoa mais suscetível ao uso de drogas ilícitas e que, geralmente, é na adolescência em que ocorre o primeiro contato com algum tipo de droga. “Isso porque é uma fase de descobertas e de formação. O jovem acaba sofrendo influências. Se ele não tiver firmeza nos princípios passados pela família, ele acaba se rendendo à curiosidade”, esclarece a médica psiquiatra Priscila Raquel Salomão de Oliveira Neves.

Ao contrário do que é normalmente apregoado, há tratamento para a dependência química. A cura para o vício não é reconhecida pela medicina, mas é declarada por pessoas que já foram dominadas pelas drogas e concluíram o tratamento em um centro de recuperação. 

ESTRUTURA

Em Três Lagoas há quatro casas assim - todas ligadas a igrejas e que dão tratamento gratuito graças a doações espontâneas dízimos. Também há o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (Caps-AD) que oferece atendimento e atividades terapêuticas a pessoas que sofrem por transtornos decorrentes do consumo de drogas. O serviço opera em parceria entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e a prefeitura da cidade. 

A reportagem foi ao Centro Recuperacional Nazareno Assistencial (CRN), da Igreja do Nazareno, e  ao Desafio Jovem Peniel, da Igreja Peniel, que funcionam em fazendas. As atividades dos internos nos dois locais são, basicamente, oração e laborterapia (o trabalho como forma de tratamento). 

Ainda mais diferentes de uma clínica, em que internação  geralmente forçada, nestes centros eles são levados por familiares ou resgatados das ruas. “É necessário que o dependente tenha interesse em se recuperar. Ele não pode estar aqui [no Centro] obrigado”, pontua Debora Dantas, voluntária do CRN. 

A esperança pela recuperação plena é o que motivou o mecânico Tarlei, de Belo Horizonte (MG), a procurar tratamento. “Perdi não só anos da minha vida para as drogas. Perdi oportunidades de emprego, a confiança de amigos, a infância do meu filho”, relatou.  

Uma luta diária

O índice de pessoas que abandonam o tratamento e depois retornam chega a 30%.

O construtor civil Jean está nesse índice. “Não acreditei quando o vi outra vez rendido ao crack”, disse a mãe Vilma sobre a recaída do filho.

O pastor Joilson Rocha, da Igreja Peniel, diz que “o risco da queda” existe para todo dependente. “A diferença é que nós acreditamos em cura”, cita. Débora Dantas credita à leitura diária e estudos da Bíblia o resultado de tirar dependentes dos vícios. “Nós mostramos a eles que é possível deixar a droga com fé em Deus, porque é Dele que vem a saída”, disse. 

Programa da PM leva tema para escolas

Educar, orientar, precaver. São temas embutidos em um programa desenvolvido pela Polícia Militar de Mato Grosso do Sul em escolas como forma de combate às drogas. Por ano, 300 alunos são diplomados por participarem de aulas do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas).

O coronel José Aparecido de Moraes, comandante da PM em Três Lagoas, disse que é importante a prevenção. “É muito bom quando vemos um estudante repreendendo um adulto que fuma. É sinal que ela sabe se proteger das drogas”, afirmou.

O programa é desenvolvido em escolas públicas e particulares.

Apesar de não ter um dado conclusivo,  a Polícia Civil relaciona o tráfico de drogas às apreensões de adolescentes. O delegado regional Rogério Makert Faria cita o fator como preocupante. “O traficante alicia adolescentes porque sabe que isto representa impunidade”, disse. Parte dos adolescentes apreendidos com drogas são levados para a Unei (Unidade de Internação de menores), após decisão da Justiça, geralmente em casos de reincidência.

APREENSÕES

Três toneladas de drogas foram apreendidas em Três Lagoas só no ano passado, com a prisão de dezenas de acusados por tráfico. Em comparação a 2014, houve aumento de 85% (1,6 mil quilos).

Maconha lidera o ranking de apreensões, com 2,9 mil quilos. “Pelo segundo ano, apreendemos grande quantidade de maconha na região, disse o delegado Rogério. Outros 70 quilos apreendidos foram de cocaína e o  restante foi de crack.

“A fiscalização para o combate tem se intensificado e o número crescente de flagrantes tem demonstrado isso”, observou.

PRODUÇÃO. 

Trabalharam na produção e edição da série os jornalistas Tatiane Simon, Kelly Martins e Valdecir Cremon, e os cinegrafistas Marcos Arruda e Claudio Pereira. As cinco edições e a reportagem podem ser acessadas no portal de notícias do Jornal do Povo - jpnews.com.br 

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