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Carne Forte

Leia artigo de Marco Garcia de Souza, publicado na edição deste sábado do Jornal do Povo

Por Redação
25/03/2017 • 10h56
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O Brasil está atravessando um momento único na sua história, no combate a corrupção e no resgate dos princípios que regem um país sério.
Não devemos perder a oportunidade de apoiar mais uma operação da Polícia Federal, mesmo que seja dentro do nosso setor, como a Operação Carne Fraca, que desvendou um esquema envolvendo Fiscais do Serviço de Inspeção Federal, além de executivos de empresas do setor de proteína animal, com abatedouros e processadores de carnes, principalmente de suínos e aves.
Fraudes aconteciam para liberar produtos sem as devidas especificações técnicas exigidas ou dar destinações outras, não recomendadas por protocolos sanitários.
Ainda bem que temos uma Policia Federal independente e competente para coibir infrações como essa, mas talvez tenhamos que melhorar a nossa comunicação, principalmente em situações tão impactantes à sociedade.

Os investigadores erraram em comunicar alguns tipos de fraudes, por não terem conhecimento técnico e não poderem esclarecer algumas questões que apareceram durante o processo de investigação e que geraram alguns mal-entendidos. Não podiam, pois, a sua fonte de esclarecimentos, seria a própria instituição onde pessoas estavam sendo investigadas.

Na primeira coletiva da Policia Federal sobre essa operação, o Delegado Responsável, numerou alguns pontos que se acreditava ser irregulares, como utilização de carnes provenientes de cabeça de porco, a utilização de ácido ascórbico e até papelão.

Palavras assustadoras e que, se impressionam um experiente delegado, imagine um consumidor leigo ou um membro da comunidade europeia, responsável pela importação de carnes do nosso país, ainda mais dito por um membro da Policia Federal. O impacto é muito grande.

Não checaram que o ácido ascórbico (Vitamina C) seria utilizado para conservação e correção da composição dos produtos cárneos e o que se tornaria relevante neste caso, não seria o produto e sim as quantidades.

A cabeça de porco, possui vários cortes na culinária mundial, como a bochecha por exemplo e que poderia ser utilizada em vários tipos de embutidos, mas não naquele especificamente que estava sendo tratado nas gravações.

Por último o mais engraçado deles, o papelão. Sem querer fazer um trocadilho com a postura dos profissionais envolvidos, foi citado pela Policia Federal, como componente de algum alimento, quando o que se estava discutindo era o tipo de embalagem, ou seja, se produtos deveriam ser embalados em plástico ou diretamente em papelão.

Desencontros a parte, o que importa agora são as consequências que tiveram e terão, o pronunciamento da Polícia Federal e suas repercussões pelo mundo a fora.

Acredito que a PF deva focar seus trabalhos em fraudes documentais, abuso de poder econômico, suborno e irregularidades como a utilização de senhas de funcionários públicos por agentes privados, além do envolvimento de partidos e políticos nestas fraudes.

As consequências dessa operação ainda não são mensuráveis. A cada dia surge um novo posicionamento de um país, de alguma entidade ou organização, que irá refletir os resultados dessa operação e a falha de comunicação ocorrida no primeiro dia.

Os números são grandiosos. E dos dois lados.

Se a operação contou com 1.100 homens da Policia Federal, o impacto no setor produtivo, seja no campo ou nas industrias, será em milhões de pessoas, que poderão perder o emprego, perder sua produção, não conseguir honrar os compromissos por interrupções das exportações ou queda no consumo, além do desemprego e queda no PIB, de um setor que vem sendo a sustentação da economia brasileira.

Não devemos criticar a operação, pois o grande flagelo deste país ainda é a corrupção, mas deveremos sempre lembrar que além de investigar, precisamos aprender a nos comunicar.

*Presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas 

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