RÁDIOS
Campo Grande, 23 de abril

Filósofo afirma que é preciso criar pontes entre gerações

Cortella falou com a reportagem da CBN sobre suas reflexões sobre a vida

Por Gabi Couto
13/07/2019 • 13h09
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Mário Sérgio Cortella esteve em Campo Grande para palestrar no projeto CBN em Ação do Grupo RCN sobre ‘Conflitos Geração’. Ele é formado em Filosofia pela Universidade Nossa Senhora Medianeira. Tem Mestrado e Doutorado em Educação pela PUC de São Paulo. Foi professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da religião da PUC por 35 anos. Exerceu a função de secretário municipal de Educação em São Paulo (SP) entre 1991 e 1992. É autor de  mais de 30 livros de educação, filosofia, teologia, motivação e carreira, entre eles “Viver em Paz Para Morrer em Paz” (2017), “A sorte segue a coragem! ” (2018) e o mais recente “Filosofia: e nós com isso? ” (2019).

 

O que o senhor destacaria sobre a sua palestra?

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Nenhum e nenhuma de nós está pronto. Isto é, nós somos um ser que constrói relações. Alguém que imagina que já está pronto em qualquer idade, envelhece a cabeça, a prática, e por isso é preciso ser capaz de manter a cabeça em estado de atenção para que a gente avance, recrie e entenda que gerações são modos de ser no tempo e que são colaborativos, não são para anulação.

 

Como falar das novas gerações?

Não pode esquecer que as novas gerações não são um encargo. Elas são um patrimônio. Temos que lidar com as novas gerações como sendo não algo que a gente carrega nas costas, como se fosse um jacá cheio de pedra. Mas ao contrário olhar para aquilo que elas colabaram, recriam, reinventam, mas dão trabalho. Conflito é diferente de confronto. Conflito é divergência, discussão, debate, de ideias. Confronto ele acaba gerando um dano muito maior. Numa família sempre há conflito. Pessoas que não pensam como eu, me fazem pensar melhor para que eu saia do que estava acomodado. Gente mais nova que eu, sabe muita coisa que eu não sei. E não sabe muita coisa que eu sei.

 

O que falta para haver mais compreensão?

A criação de pontes. É muito comum que os pais perguntem para os filhos o ‘que aprenderam hoje? ‘ Isso é auditoria. Quer chegar no mesmo lugar, mas de maneira mais afetiva, é só perguntar ‘o que pode me ensinar?’ O que muda é a abordagem. Jovens gostam de ensinar. Eles se sentem mais valorizados. A melhor maneira de criar uma ponte é pedir para ele ensinar algo. Qualquer um de nós gosta de ensinar e se sente bem em fazê-lo. Se eu começo a criar pontes e abro a possibilidade de ser ensinado ele começa a ficar mais disponível também a prestar atenção no que eu quero dizer. Se a gente dinamita as pontes. Estilhaça nossa capacidade, fica sempre numa postura mais pontifical de dizer que eles não entendem nada, está sempre desqualificando a vida da outra pessoa. Não dá para criar filhos hoje e nem lidar com as novas gerações como eu eduquei meus filhos e nem meus pais educaram os filhos dele. É preciso ter mais inteligência.

 

Nos dias de hoje é importante estudar e conhecer filosofia? Por quê?

A filosofia é boa para pensar melhor com mais nitidez, mais consciência. Sozinha não resolve. Ela faz com que a gente que está por trás de tudo isso tenha uma vida robótica e nem automática. Não resolve por si, mas sem ela as coisas ficam menos conscientes.

 

O que diria para os jovens hoje com relação a família, trabalho e amor?

A ideia é que não tenha uma vida que seja desperdiçada. Amor é uma construção, uma obra que vai se fazendo, não pode ser banalizada. A família é um ninho afetivo e precisa sê-lo. Muitas vezes não se tem a família que se desejaria e talvez é preciso fazer um esforço para fazê-la desse modo ou até construir de outro modo de ser família. E é claro que o trabalho é aquilo que permite que a nossa vida ganhe condições para que a família se sustente e o amor não seja descartado.

 

Para uma pessoa ser feliz, o que é mais importante?

Aquilo que a gente tem no horizonte. O horizonte é aquela obra que você não alcança, mas te impulsiona. Aquilo que se procura. Se for algo que for descente, se for algo que for a tua obra que não seja algo que se coloca em um patamar inferior. A felicidade não é um lugar é uma condição momentânea. Que vai embora, mas volta. E quando vem, não vem sempre. É preciso abraçá-la, afagá-la. Cuidar dela, que ela vai, mas volta.

 

Sobre educação, como avalia a atual relação dos jovens, com os professores?

As novas tecnologias trouxeram um certo desencantamento com aquilo que era escola mais antiga. Uma parte daquilo que a escola trazia hoje se encontra disponível com as novas tecnologias. Por isso nós professores temos que ser melhor formados com melhores condições de trabalho para que a gente possa ganhar outros campos de encantamento em relação as temáticas, aos procedimentos. Isso significa que não é a tecnologia que torna uma aula mais contemporânea, mas a recusa  a essa tecnologia faz com que a escola fique ultrapassada. Então não é nem informato cuidá-la, fobia, que é o pânico em relação ao mundo digital e nem informatolatria, que é a adoração do mundo digital, achando que ele tudo resolve.

 

As pessoas estão com preguiça pensar? Criar?

A gente precisa mexer mais com isso e sair de uma certa acomodação, porque embora ela seja confortável é que nem água parada. Água parada fede.

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