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Campo Grande, 26 de abril

Pólen ajuda na elucidação de crimes

Pesquisadores utilizam amostras encontradas em cadáveres e identificam locais por onde a pessoa passou

Por Loraine França
09/12/2018 • 07h30
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Na busca pela inovação em solucionar crimes de maneira mais rápida, pesquisadores da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, desenvolvem estudos que relacionam pólen encontrado em roupas de cadáveres com regiões da cidade para identificar o local onde a morte pode ter ocorrido. Para isso, são analisadas textura, cor e forma dos pólens encontrados no cadáver para serem comparados com pólens coletados de regiões de mata, vegetação de ruas e terrenos. 

“Pólen das plantas possibilita identificar por onde uma pessoa passou porque fica aderido na pessoa. Quando ocorre um crime, coletamos o pólen e verificamos de qual região da cidade esse corpo é proveniente”, explica Ariadne Gonçalves, doutoranda que trabalha na pesquisa. O trabalho inclui o desenvolvimento de um software capaz de identificar de forma automática os pólens coletados. 

Jornal do Povo – Como surgiu a iniciativa em desenvolver essa pesquisa?
Ariadne - Essa pesquisa iniciou com o estudo do pólen em produtos apícolas, mais especificamente, no mel. Eu estudava os grãos de pólen no mel para tentar dizer qual era a real procedência dele, se era de uma região de cerrado, pantanal ou qualquer outro tipo de vegetação. Esse estudo, serve para certificação botânica do produto apícola. Então, em paralelo a isso, eu estava ajudando no projeto de mestrado de um perito que consistia em identificar larvas em cadáveres. Foi com esse projeto que eu tive um insight de levar o projeto com polén para a área da perícia. Então, foi assim que surgiu todo esse plano. Como no mestrado eu trabalhei com pólen no mel, no doutorado eu cheguei no meu orientador e disse para levarmos à aplicabilidade da palinologia forense. Ele aceitou e começamos esse projeto.

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JP – O que é a palinologia forense?
Ariadne - Como se sabe, os grãos de pólen estão presentes nas flores e o estudo de grão de pólen é a palinologia. E a palinologia forense é o estudo do grão de pólen no local do crime ou vinculado com o crime. Estuda-se o pólen tanto em cadáveres, como em objetos ou no ambiente criminológico em si. É a criminalística que estuda a palinologia forense.

JP - Onde o pólen está presente?
Ariadne - Em todos os ambientes, tanto quando você passa embaixo de uma árvore, e o pólen da árvore pode cair em você, ou quando você esbarra numa flor e, até mesmo, pelo vento. Porque a planta polinizada pelo vento [dente-de-leão, por exemplo] tem maior concentração de pólen no ar.

JP - Como se dá essa relação do pólen com a identificação de crimes?
Ariadne - Quando o ambiente tem plantas e essas plantas elas produzem pólen, é possível identificar por onde uma pessoa passou porque o pólen fica aderido na pessoa. Então, quando acontece um crime, a gente coleta o pólen da pessoa e verifica de qual região da cidade esse corpo é proveniente.

JP -  O estudo mapeou a vegetação de Campo Grande para comparar os pólens do cadáver com os pólens da região onde o corpo foi encontrado. Como é feita essa comparação?
Ariadne - O pólen tem vários formatos, alguns são redondos, outros, triangulares. Há diversos formatos. Além da forma, nós utilizamos a cor para testar e também, a textura. Algumas texturas são mais quadriculadas, outras triangulares e algumas lisas. Então, principalmente, essas características de cor, forma, textura, gradiente da imagem são utilizadas na identificação com o grão de pólen. Cada planta produz um tipo de pólen diferente. Então, é a partir disso que a gente consegue determinar os ambientes, porque todo ambiente tem uma “assinatura polínica”. Por exemplo, a planta que tem na sua casa não tem na minha. Então, isso significa que as digitais das nossas casas são diferentes na questão dos pólens.

JP - Como você avalia a importância dessa pesquisa para auxiliar no trabalho da perícia que hoje depende de biólogos e de um tempo maior para fazer a identificação de um crime?
Ariadne - A palinologia forense é um auxílio em otimizar o trabalho do perito para resolver um crime. Sem dúvida, essa ciência é fundamental para a perícia, e há uma iniciativa de automatizar [a identificação], que partiu daqui [Mato Grosso do Sul].  Com o software e estatísticas, nós estamos tentando correlacionar essa vegetação com cada tipo polínico que encontramos na amostra para tentar dizer se a morte do indivíduo ocorreu onde o corpo foi encontrado.

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