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Campo Grande, 26 de abril

Prefeito de Ponta Porã é contra a reabertura da fronteira

Segundo Hélio Peluffo (PSDB) a medida é puramente comercial e vai na contramão das medidas de biossegurança

Por Alan Kaká/CBN
23/09/2020 • 19h18
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Em entrevista para a Rádio CBN nesta quarta-feira (23), o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo foi enfático ao se posicionar contra a reabertura da fronteira nesse momento. Esse posicionamento se dá em resposta ao anúncio feito nesta terça-feira (22) pelo governo paraguaio da reabertura de suas fronteiras para os compradores brasileiros, o que surpreendeu e desagradou o prefeito de Ponta Porã, principal cidade brasileira que faz fronteira seca com o Paraguai. Confira:

 

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“Esse fechamento da fronteira foi uma mera ação política. Nunca deixaram de passar paraguaios para o lado do Brasil para trabalhar. Nós fizemos uma barreira sanitária e passaram entre 600 e 900 motos e carros vindos do Paraguai para o lado brasileiro”, afirma Peluffo.

A fala do prefeito contrapõe as demonstrações de rigor dos paraguaios nas medidas adotadas contra o avanço da Covid-19. Desde o registro de seu primeiro caso, o país vizinho entrou em “Lock Down”, adotando medidas rigorosas de isolamento social, como toque de recolher e controle da fruição social feito pelo Exército, bem como a adoção de barreiras militarizadas para coibir a entrada de brasileiros no país.

Peluffo considera tais ações como político-midiáticas.


“Agente não tem dados informados pelo Paraguai. O Paraguai toda a vida omitiu os dados, se trancou, não compartilhou, nos isolou, tratou extremamente mal os paraguaios por parte dos policiais. Foram extremamente deselegantes, truculentos. Não sei porque razão. Qual o motivo de abrir agora? Que dados eles têm a nos oferecer para dizer ‘agora nós estamos seguros’”, afirmou Peluffo.

“Quando a gente quis conversar, quando a gente quis confirmar os números, compartilhar informação e ter uma estratégia única (uma vez que somos uma cidade uma), o Secretário de Saúde do Paraguai foi extremamente deselegante e desagradável. Há poucos dias eles vieram pedir para nós fazermos um convênio para emprestar UTIs”, informou o prefeito de Ponta Porã.

Peluffo ainda afirma que a situação da pandemia no município está sob controle, mas que o aumento do turismo no próximo período exige preocupação.

“Nós não tivemos sobressalto nenhum. Somos uma cidade com quase 100 mil habitantes e temos um número de casos até reduzido em relação a outras cidades. Não chegamos a 900 casos e temos quase 90% dos casos curados. Temos 20 UTIs. Essa semana nós comunicamos à comunidade que nossa ocupação de leitos chegou a quase 80% e o medo é chegar a 100% [de ocupação]. Exatamente antes de ontem completaram-se 14 dias do feriado de 7 de setembro e toda vez que tem um feriado tem um aumento gradativo e nós estamos muito preocupados com o feriado do dia 12 de outubro. Desde o feriado lá de março, do Dia das Mães, Dia dos Pais, Corpus Christ, todos os feriados causaram um pico pelas estatísticas nossas. Agora o [feriado] de outubro está nos preocupando muito”.

Em resposta ao que chamou de “unilateralidade do Paraguai” na decisão do governo vizinho sobre a abertura, Peluffo afirma que agirá com rigor caso os paraguaios anunciem promoções.

“Eu vou ter uma reunião com a Associação Comercial do Paraguai, mas eu já deixei muito claro que se eles inventarem uma “Black Friday” nós vamos entrar com a polícia à “full” nas nossas estradas segurando tudo o que for comprado. Nós vamos pedir para [Polícia/Receita Federal] tirar a mercadoria de todo mundo que vier passear para cá. Se eles fizerem promoções nós vamos aumentar o rigor nas estradas. O meu rigor será extremamente forte contra qualquer movimento para chamar turistas para Ponta Porã”, enfatizou Peluffo à CBN

O prefeito de Ponta Porã ressalta que o comércio entre os dois países não parou durante a pandemia, mesmo com o “lockdown” no país vizinho.

“Não é um problema de arrecadação. O Dólar está muito alto. Comercialmente a gente sempre vende bem.. O [comércio] lícito diminuiu, mas o ilícito foi infinitamente superior. O ilícito foi absurdo”, sugeriu o prefeito.

A impressão do prefeito - de que houve aumento do comércio ilegal na fronteira durante a pandemia - foi confirmada pela assessoria da Refeita Federal de MS para a CBN, de março a setembro deste ano – período de vigor do fechamento da fronteira -  foram R$60 milhões em produtos apreendidos, um aumento significativo em relação ao mesmo período do ano passado.

“Toda a exportação legal e importação legal não parou em momento algum. A Receita [Federal] foi muito eficiente, manteve esse corredor aberto, tanto do lado do Paraguai quanto do lado do Brasil. Então o corredor de exportação e importação legal em momento algum houve interrupção. O que aumentou foi o descaminho. Há um descaminho tanto daqui para lá quanto de lá para cá.

“É lógico que o que preocupa é o Paraguai sedento para melhorar sua situação econômica e se esqueça da vida, ao ponto que o Paraguai dizia que nós iríamos dizimar pela segunda vez o povo paraguaio”, relembra Peluffo que reafirma sua intenção em aumentar o rigor no policiamento e fiscalização na fronteira com a reabertura:

“Se tiver promoção eu vou exigir do [governo do] estado e da Receita [Federal], dentro das minhas possibilidades, e um bloqueio da polícia vai estar tomando a mercadoria de todo mundo. Nós vamos exigir da polícia um bloqueio rigoroso das estradas. Muita gente vai perder mercadoria. Você criar uma situação completamente desordenada, com propósito totalmente comercial, sem conversar com a gente, sem criar uma estratégia com a gente? Eles têm um projeto de biossegurança que possa garantir à população tranquilidade nisso? Há uma série de coisas que nos preocupa”, enfatiza Peluffo, que desabafa:

 “Essa unilateralidade do Paraguai é que nos incomoda.”

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