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Cargill já produz 300 mil litros/dia de biodiesel

Com tecnologia 100% alemã, unidade de Três Lagoas é a primeira planta da Cargill no Brasil. Produção plena pode chegar a 700 mil litros/dia

Por Danilo Fiuza
23/08/2012 • 08h40
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Com produção inicial de 300 mil litros/dia, a usina de biodiesel da Cargill em Três Lagoas entrou oficialmente no mercado nesta quarta-feira e na segunda quinzena de setembro participa do primeiro leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP), órgão que regula o comércio de combustíveis no País. A planta, com tecnologia 100% alemã, já tinha estocados 7 mil litros de biocombustível da produção de teste, mas a partir de agora a produção é continuada, em escala comercial.

Instalado ao lado da indústria de esmagamento no Distrito Industrial 1, no Jupiá, a usina terá capacidade de produzir até 700 mil litros de biocombustível por dia (200 mil toneladas/ano). “Nessa fase inicial vamos produzir de 280 mil a 300 mil litros por dia, mas a capacidade é para 700 mil litros/dia”, disse o diretor comercial da companhia, Max Slivnik em entrevista ao Jornal do Povo.

Segundo o diretor comercial da companhia, o fato da usina estar integrada à unidade esmagadora, dá à Cargill maior capacidade de produção, que também tem ganhos de competitividade pelo fato de possuir um terminal hidroviário na porta da empresa.

O terminal, às margens do rio Paraná, com calado de 3,5 metros, recebe comboios de até cinco barcaças e um rebocador.  Cada barcaça pode levar até 1.500 toneladas de óleo ou biodiesel a granel, “Até então estamos usando o porto para o escoamento do óleo comestível, farelo e outros subprodutos, mas por aqui também será embarcado o biodiesel”, informou o engenheiro químico José Luiz Gnoato, superintendente da Cargill em Três Lagoas.

Segundo o superintendente, na logística de transporte a unidade de Três Lagoas ainda não está usando o modal ferroviário, que está concentrando no segmento florestal. Como apenas a Amércia Latina Logística (ALL) opera a ferrovia, há problemas na definição de fretes, que obedecem a modulação do transporte rodoviário. “Já dispomos do ramal ferroviário. A ideia é usá-lo, mas por enquanto está inativo”. 

Gnoato recebeu as equipes do Jornal do Povo e da TV Concórdia, do Grupo RCN de Comunicação nesta quarta-feira, para mostrar os complexos de alimentos e de combustíveis da companhia. “Vinte mil litros de óleo rendem exatamente 20 mil litros de biodiesel no processo de transesterificação (refinamento do óleo e adição de metanol) e ainda extraímos a glicerina”, explicou o superintendente, notando que o biocombustível de Três Lagoas atenderá todos os padrões exigidos pela ANP e ainda com qualidade superior, em razão da tecnologia.

Outra vantagem que dará competitividade à produção, de acordo com Elcio de Angelis, gerente de biodiesel da Cargill, é a co-geração de energia. Além da energia hidrelétrica, o complexo de Três Lagoas possui um ramal de gás natural que abastece uma pequena usina e a eletricidade gerada pela biomassa, extraída de cavacos de madeira. Hoje a Cargil adquire a madeira no mercado local, mas em breve deve iniciar a colheita de áreas de florestas da própria companhia, que possui em torno de 300 mil hectares.

“Aqui temos orgulho também da estação de tratamento de água. Parte da água que retiramos do rio Paraná é devolvida totalmente tratada”, diz Gnoato, apontando para um lago. “Naquele lago tem peixe, daí a certeza que aquela água pode ser devolvida ao rio”, disse o superintendente, que já passou por unidades da Cargil no Paraná, Argentina e Estados Unidos. “Gostaria de permanecer e aposentar por aqui”, afirma, justificando o potencial de Três Lagoas.

MERCADO

O diretor comercial da Cargill em São Paulo, Max Slivnik disse que no leilão da ANP em São Paulo espera obter a média da última cotação do biodiesel, de R$ 2,40 o litro. “Aqui no Brasil o combustível é normatizado, diferente de outros mercados, por isso a produção será vendida por meio da ANP às distribuidoras”. Segundo ele, como o etanol é adicionado à gasolina, o biodiesel também é um aditivo ao diesel mineral, na proporção de 5%, para ser usado basicamente no transporte de cargas e de passageiros, além de indústria (caminhões, máquinas e ônibus).

Segundo Elcio de Angelis, gerente de biodiesel da companhia no Brasil, cerca de 25% da soja a ser utilizada na produção do biodiesel serão adquiridos de pequenos agricultores, dentro da política de aprimoramento da relação da subsidiária com os produtores, por meio de preços diferenciados e assistência técnica dentro dos parâmetros determinados por Instrução Normativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em que se enquadram a agricultura familiar.

A rede de fornecedores chega a 1.100 pequenos produtores, que recebem toda a assistência técnica. “Parte da compra de soja está sendo feita de pequenas propriedades agrícolas, baseadas na agricultura familiar”, disse Elcio de Angelis durante áudio-conferência com a Redação do Jornal do Povo.

A compra de matéria-prima de agricultores familiares vai permitir à Cargill obter o Selo Combustível Social. A empresa, que já produz em Três Lagoas óleo comestível e farelo de soja, adquire grãos de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

LINHAS DE PRODUÇÃO

O complexo da Cargill em Três Lagoas tem linhas de produção que passa pelo óleo comestível (marca Liza) aos óleos graxos e gorduras vegetais usados na fabricação de margarina, biscoitos, maionese, farelo, até a linha de lubrificantes e combustíveis.

“Quando você consome um frango, um leitão assado, degusta um biscoito ou uma bolacha recheada, você provavelmente estará consumindo também farinha de soja extraída aí da fábrica de Três Lagoas”, comentou o diretor comercial Max Slivnik.

Slivnik disse que a Cargill está comemorando essa fase da linha industrial, a primeira da companhia no Brasil, com experiências das unidades que possui na Alemanha, Estados Unidos e Argentina, onde a operação comercial começou recentemente.

Segundo ele, a unidade de Três Lagoas terá uma das respostas mais rápidas ao investimento, em razão da logística e localização, na confluência dos principais centros consumidores de combustíveis (regiões Sul e Sudeste).

De acordo com Max Slivnik, os investimentos no setor levam em conta, além da competitividade, a tendência de expansão do mercado de biodiesel. Em 2006, a produção em escala industrial era praticamente zero; em 2011, chegou a um total de mais de 2,5 milhões de metros cúbicos. 

O aumento se deve à mistura obrigatória de 5% de biodiesel em todo óleo diesel distribuído no país. “Mesmo que o nível de mistura obrigatória permaneça inalterado, o consumo de biodiesel cresce junto com o aumento do consumo do diesel, consumo este que está diretamente ligado ao crescimento da economia no país.

De acordo com os executivos da empresa, o biodiesel confere nova dinâmica aos negócios do grupo com óleo de soja, cujas exportações estão em queda. A Cargill é grande produtora de óleo de soja para alimentação e fins industriais, mas está preparada para transformar todo seu estoque de óleo comestível em biodiesel, num processo industrial veloz e com a vantagem de obtenção de subprodutos.

Já em meio às discussões sobre o novo marco regulatório do biodiesel, a Associação de Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e a União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) projetaram, no início deste mês, que os investimentos na cadeia do biocombustível poderão somar R$ 28 bilhões no país até 2020, quando a mistura obrigatória deverá chegar a 20% e exigirá, portanto, maior oferta.

Apesar do futuro promissor, a elevada capacidade ociosa do parque produtivo já instalado no país mantém a Cargill com os pés no chão. "É uma indústria jovem, com o marco regulatório ainda sofrendo alterações. Vamos consolidar nosso negócio no médio prazo", afirmou Slivnik.

COMBUSTÍVEL SOCIAL

A Cargill espera obter em até 15 dias do governo o "Selo Combustível Social", referente à participação dos agricultores familiares na cadeia produtiva. Com ele, há vantagens tributárias.

Max Slivnik, que cuida da área comercial para mercado interno da unidade de negócio de grãos e processamento de soja da Cargill no país, destaca que a planta de Três Lagoas conta com tecnologia alemã de ponta e já produz um biodiesel de elevada qualidade, com padrões que a ANP só prevê para 2014.
O biodiesel que já vinha sendo produzido na fase de testes em Três Lagoas tem, por exemplo, umidade inferior a 200 partes por milhão, necessária para a mistura em um diesel com menor teor de enxofre, cujo uso começa a se disseminar no Brasil.

"Nesse caso, o biocombustível que será misturado tem de ter um teor de umidade menor para evitar a proliferação de bactérias", explica Elcio de Angelis, diretor da área de biodiesel. "É um passo importante, porque ajusta a qualidade do produto brasileiro a padrões internacionais". (EC)

PERFIL DA COMPANHIA

A Cargill produz e comercializa internacionalmente produtos e serviços alimentícios, agrícolas, financeiros e industriais. Fundada em 1865, a companhia emprega 140 mil funcionários em 65 países. No Brasil desde 1965, a Cargill tem sua origem no campo, a partir das atividades agrícolas, e hoje constitui uma das maiores indústrias de alimentos do País. Com sede em São Paulo, a empresa está presente em 18 Estados brasileiros por meio de unidades industriais e escritórios em cerca de 130 municípios e mais de 8 mil funcionários.
 

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