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Sem dinheiro, Eldorado atrasa obras

Empresa admite dificuldades para obter empréstimos de fundos públicos para tocar projeto de R$ 8 bi em unidade de Três Lagoas.

Por Ana Cristina Santos
30/07/2016 • 10h00
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Menos de um mês depois de ter documentos apreendidos pela Polícia Federal, na Operação Sépsis - um desdobramento da Operação Lava Jato, que investiga possível esquema de corrupção na liberação de recursos públicos à iniciativa privada -, a empresa de celulose Eldorado Brasil confirma, em nota, que a nova linha de produção da fábrica, em Três Lagoas, não entrará em operação em 2018, como previsto.

Mesmo com obras iniciadas, a Eldorado não conseguiu juntar todo o recurso necessário para o projeto de expansão. A empresa afirma que trabalha na “estruturação de capital” para a instalação de sua segunda linha de produção de celulose, que demandará investimento de R$ 8 bilhões.

Conforme cronograma inicial, divulgado no lançamento da pedra fundamental do projeto Vanguarda 2.0 em 15 de junho do ano passado pelo presidente da empresa, José Carlos Grubisich, a Eldorado pretendia colocar em operação a nova linha em 2018.  No entanto, informou que tudo agora sofrerá atraso de um ano. 

Apesar de a empresa informar que a nova linha de produção, que terá capacidade anual estimada em até 2,5 milhões de toneladas de celulose, segue cronograma, a reportagem apurou atraso junto a trabalhadores de empresas terceirizadas. 

Até agora foram concluídos a terraplanagem e instalação de infraestrutura básica. Cerca de 500 trabalhadores contratados pela empreiteira Conter devem ser dispensados assim que os 5% restantes dos serviços desta etapa forem concluídos. A obra será paralisada até que a Eldorado obtenha recurso necessário.
Em nota, a empresa informa que ao longo do terceiro trimestre deste ano serão escolhidos “os principais parceiros de equipamentos e tecnologia” e que o pico da obra, que demandará quantidade maior de trabalhadores, está estimado para o início de 2018.

RECURSO

Do total a ser investido, R$ 3 bilhões (30%) serão provenientes de capital próprio (equity) e 70% de linhas de crédito de longo prazo compatíveis com a estrutura do projeto. A companhia pretendia levantar entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão com o FI-FGTS (Fundo de Investimento que utiliza recursos do FGTS), R$ 1,5 bilhão com o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), além de recursos das agências de crédito à exportação (ECAs), que financiam a compra de equipamentos, e também do BNDES. 

A liberação do financiamento - necessário para a conclusão do projeto - no entanto, pode ficar comprometida após o envolvimento da Eldorado - empresa que pertence à J&F Investimentos, holding da família Batista - na operação Sépsis, deflagrada no começo de junho. 

A empresa tornou-se alvo de investigação após a J&F ser citada em delação premiada por Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, que revelou um suposto esquema de propina em operações envolvendo fundo. Ele revelou que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria recebido propina pela liberação de empréstimos destinados à Eldorado. 

A empresa teria solicitado inicialmente R$ 1,8 bilhão, mas conseguiu R$ 940 milhões. Sobre este valor, Cunha teria recebido valor superior a 1% de comissão. 
Em nota anterior, a Eldorado afirmou que todas as suas “atividades e relacionamento com clientes, investidores, fornecedores, órgãos públicos, instituições financeiras e o mercado em geral são realizados de forma transparente e dentro dos princípios determinados no nosso Código de Conduta.”

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