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Portugal já tem cem bancos de troca de manuais escolares

Por Redação
03/09/2012 • 09h08
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 Em Chaves, a troca de manuais escolares até se fez este fim-de-semana num parque, como se de uma feira, solarenga, se tratasse. Mas pode ser num café, num cabeleireiro, numa florista ou numa loja de informática. O sítio nunca importou muito, basta que haja vontade de participar. O explicador Henrique Trigueiros Cunha lançou o desafio nos últimos meses de 2011, e 2012 está a ser o ano de explosão do movimento pela reutilização de livros escolares, que neste domingo assinalou a abertura do centésimo banco no país.


O momento foi aproveitado para apelar ao Governo que estimule a troca de livros, generalizada, em todas as escolas do país. E não apenas como uma forma de ajudar alunos carenciados, vinca Henrique Cunha, que teme ser esse o plano do executivo. Para este explicador de Matemática, o ministério liderado pelo matemático Nuno Crato deve apostar na reutilização como forma de estimular um comportamento ecológico que, simultaneamente, teria um impacto na bolsa das famílias. Entregar livros usados aos mais carenciados acabaria por os “estigmatizar”, avisa o fundador mo movimento presente no Facebook e em reutilizar.org.

Os portugueses, garante Cunha, estão interessados. Enquanto na banca tradicional se encerram balcões, com a crise, o movimento pela troca de livros escolares multiplica pontos de recolha, à medida que se aproxima o início do ano escolar. Em Agosto, houve mais de 50 novas adesões. A situação económica do país, mais até do que um súbito assomo de ecologia, acreditam muitos dos promotores destes espaços, está a levar as famílias a entregar livros, nuns casos, e muitas outras a procurarem os pontos onde os possam recolher. Seja qual for a motivação, o facto é que estes gestos estão a permitir a reutilização de dezenas de milhares de livros que, de outra forma iriam parar ao papelão, se não ao lixo.

Henrique Cunha recebe diariamente “mais de cem pessoas” no pequeno espaço que lhe emprestaram no edifício Oceanus, em plena Avenida da Boavista, no Porto. É um dos bancos mais concorridos do país, que tem em São Miguel, nos Açores, pela mão do casal Cláudia e Alexandre Moniz, outro exemplo de dinamismo em torno da causa a reutilização. Com página própria no Facebook, e com um serviço que, com um apoio informal de algumas pessoas, chega de Ponta Delgada a outras ilhas do arquipélago (que tem mais três espaços, no Faial), o casal celebrou na sua página o empréstimo de madeiras para prateleiras. Um descanso para as costas, cansadas de manusear “pilhas de livros” espalhadas pelo chão.

É deste improviso, carregado de puro voluntarismo – mas já com alguma organização, fruto de um ano de experiências – que se vai fazendo este movimento. O objectivo, para lá da troca e reutilização dos manuais, é convencer o Governo do desperdício de recursos a que o país se sujeita todos os anos. Henrique Cunha fala do caso da Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim, como um exemplo que o Ministério da Educação poderia ajudar a espalhar. Naquele estabelecimento, a associação de pais – contrariando a posição da confederação do sector, a Confap, que não se mostra adepta da reutilização – tem todo o apoio da direcção da escola na organização da recolha e entrega dos livros. “Funciona tudo muito bem ali, e não há filas como nosso espaço”, nota Henrique Cunha, que todos os dias, pelas 10h, já tem “dezenas” de pessoas alinhadas à espera que abra a porta. 

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