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EDUCAÇÃO

Quase 60% dos professores da rede pública de Três Lagoas convivem com casos de violência

Levantamento bienal publicado pela QEdu, nesta semana, apontou ainda que quatro professores foram vítimas de atentado à vida

Por Jonas Turolla
23/03/2017 • 12h06
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Mais da metade dos professores da rede pública (municipal e estadual) de Três Lagoas foram vítimas de agressões verbais ou físicas, ou então viram funcionários passarem por este problema, de acordo com o relatório bienal elaborado pela QEdu, instituição voltada à análise da educação no país. Quatro deles, inclusive, afirmaram ter sido vítimas de atentado à vida, no ano escolar de 2015.

Os dados saíram dos questionários aplicados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) durante a Prova Brasil 2015 e foram divulgados na última segunda-feira (20). O JP News publicará, ao longo da semana, uma série de reportagens sobre a qualidade do ensino em Três Lagoas.

Ao todo, 97 dos 166 professores entrevistados (58%) responderam 'sim' à seguinte pergunta: "Sobre os fatos listados abaixo, diga se eles aconteceram ou não neste ano, nesta escola: Agressão verbal ou física de alunos a professores ou a funcionários da escola". Destes, 55 lecionavam em instituições de ensino municipais e 42 em estaduais.

O ambiente em algumas escolas é tão hostil que nem mesmo os diretores escapam da violência dos alunos. "Em 2013, um aluno da Escola Estadual Padre João Tomes arremessou uma cadeira no meu rosto. Ele estava praticando bullying com uma colega e eu tive que chamar o pai dele para conversar. O pai foi na escola e, quando fomos fazer o Termo de Ajustamento de Conduta, o estudante se exaltou e jogou uma cadeira em mim. Tivemos que chamar até força policial, pois ele estava descontrolado", contou José Bento de Arruda, ex-diretor adjunto da Escola Estadual Padre João Tomes e atual diretor da Escola Estadual Bom Jesus.

O caso que mais assustou o diretor, no entanto, aconteceu ano passado, na escola Bom Jesus. "No primeiro dia de aula do segundo semestre, dois meninos, com uniformes da rede estadual, atearam fogo no meu carro. Chamamos os bombeiros, mas deu perda total", revelou. 

"Não temos nenhum tipo de segurança. A escola fica exposta. Nós, educadores, não fomos preparados para lidar com essa questão. E, infelizmente, não temos nenhum aporte (financeiro) para segurança. Em Três Lagoas, na rede estadual de ensino, as escolas não têm sistema de monitoramento", desabafou.

A reportagem do JP News entrou em contato com a diretora educacional e pedagógica da Secretaria de Educação e Cultura de Três Lagoas, Ângela Maria de Brito, que tentou explicar os números de violência escolar na rede municipal.

"É um problema nacional. É uma questão de princípios e valores que, hoje, estão perdidos, tendo em vista que a família não tem participado da educação dos filhos. Nós temos também que preparar os nossos educadores. O que não pode é o aluno agredir e nós, enquanto educadores, revidarmos na mesma medida. Violência gera violência. No entanto, acreditamos que dá para reverter essa situação trazendo a família para dentro da escola e ocupando esses jovens", afirmou.

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