RÁDIOS
Três Lagoas, 25 de abril

Como anda a saúde da sua boca?

O Brasil é o 4º país do mundo em incidência de câncer bucal, e o Mato Grosso do Sul possui grande número de casos

Por Tatiane Simon
05/12/2017 • 08h44
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A convite da deputada estadual, Mara Caseiro, e por indicação do Conselho Regional de Odontologia do Mato Grosso do Sul, no dia 25 de outubro deste ano, data em que é celebrado o Dia do Cirurgião-Dentista, as profissionais de Três Lagoas, Professora-doutora Maria Fernanda Martins-Ortiz Posso e a doutora Eliana Echeto foram homenageadas em sessão solene na Assembleia Legislativa, em Campo Grande. Maria Fernanda foi escolhida para falar em nome dos 18 homenageados do estado. 

Eliana Echeto é sócia-proprietária, radiologista e ortodontista do Centro de Documentação Odontológica Digital de Três Lagoas - referência em tecnologia voltada para diagnóstico bucal na região, com equipamentos e serviços compatíveis com os melhores centros de odontologia. O Centro possui recursos para procedimentos de excelência, contribuindo sobremaneira para a aceleração do desenvolvimento da odontologia na cidade e região, nos últimos anos, desde sua instalação no município.

Maria Fernanda, mestre e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), foi contemplada pelos serviços prestados à população e colegas, por meio de palestras e entrevistas em instituições e, principalmente em escolas, sobre câncer bucal e vírus do papiloma humano (HPV). Foram cerca de 100 palestras, principalmente em escolas públicas, para cirurgiões-dentistas e auxiliares odontológicos em Três Lagoas e outras cidades do estado, a convite do Conselho Regional de Odontologia (CRO/MS), da Rede Feminina de Combate ao Câncer e Rotary Internacional. 

Revista Se7e: Doutora, como se iniciaram as palestras sobre Câncer Bucal e HPV?

Maria Fernanda: Minha principal atuação é como ortodontista, mas sou também a única especialista bucal da cidade, de modo que o CRO/MS e a Associação Brasileira de Odontologia (ABO) me convidaram a fazer uma palestra aos colegas para atualização sobre câncer bucal. O nosso estado iniciou uma campanha para a instituição de uma Semana Nacional de Combate ao Câncer Bucal no Brasil e que foi recém-incorporada ao calendário nacional de saúde, na primeira semana de novembro. Assim, desde 2015, tenho sido convidada ou realizo estas palestras voluntárias, que ganharam atenção em decorrência da mudança no perfil do paciente com câncer bucal. O Brasil é o 4º país do mundo em incidência da doença, sendo que o Mato Grosso do Sul é um dos mais afetados.

Qual é o perfil atual do paciente com câncer bucal?

Houve uma mudança bastante importante no perfil deste paciente nos últimos anos. Antes, o paciente era, principalmente, homem com mais de 50 anos, tabagista ou etilista, ou ainda com muita exposição à luz solar. As áreas mais acometidas eram os lábios, expostos ao sol sem proteção, e a língua. Hoje, devido à epidemia global de HPV, este perfil foi assustadoramente modificado. O câncer bucal afeta homens e mulheres, indistintamente do gênero, de 30 a 45 anos que, muitas vezes, nunca fumaram ou beberam, mas que se expuseram muito precocemente ao vírus. Hoje, as principais lesões de câncer são na língua e garganta. 

E como o HPV pode provocar o câncer de boca?

Existem mais de 200 tipos de vírus HPV. Entretanto, os tipos 16 e 18 são os principais capazes de alterar a proliferação celular em mucosas, como na boca ou no colo de útero, por exemplo. Hoje, cerca de 80% dos cânceres de boca apresentam o envolvimento dos destes oncovírus 16 e 18. Infelizmente, a campanha nacional de vacinação para o HPV não tem alcançado as metas propostas e muitas vacinas podem ser perdidas por expiração da data de validade. Um desperdício incomensurável! 
Muito tem se falado sobre a vacina do HPV para a prevenção do câncer de colo de útero, mas o HPV é responsável por vários tipos de câncer como de boca, pênis e outros. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 15.490 novos casos de câncer de boca surgem por ano no Brasil, sendo que um terço destes vem a óbito. Cabe a nós, cirurgiões-dentistas, divulgar este conhecimento para evitar que este recurso tão precioso obtido com dinheiro do povo seja perdido por desinformação.

Como o HPV é transmitido?

O HPV é um vírus muito resistente, podendo ser transmitido por objetos, no parto, por meio sexual, principalmente sexo oral. Muitos objetos são compartilhados na nossa cultura, como tereré, narguilé, chimarrão, garrafinhas d’agua. Então, não se pode arriscar. O ideal é vacinar o máximo possível da população e o mais precocemente possível, aos nove anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o paciente de maior risco de câncer bucal atualmente é aquele que iniciou uma vida com prática de sexo oral muito precocemente e com um grande número de parceiros. Infelizmente, o preservativo não protege da contaminação por HPV, que fica espalhado por toda a área genital. Por se tratar de um vírus muito infectante, não se pode achar que a contaminação estaria condicionada somente ao ato sexual. O HPV já foi identificado até na superfície de sabonetes. Assim, não se pode perder a oportunidade de se vacinar!

O uso do narguilé está em “moda” em muitos lugares do Brasil, como em Três Lagoas. Em sua avaliação, ele seria mais ou menos nocivo que o cigarro?

Consumir narguilé por uma hora é o mesmo que fumar de 100 a 200 cigarros. O charuto, cigarro eletrônico, enxaguatórios bucais com álcool, tabaco de mascar, rapé, narguilé são todos de risco para câncer bucal e outros. O efeito é cumulativo, então não há limites de segurança para o consumo do tabaco em nenhuma forma, ou do álcool - ambos altamente cancerígenos. A associação do álcool e tabaco potencializa em 150 vezes as chances de ter câncer bucal!
O protetor solar labial é tão importante para os lábios quanto para a pele para  evitar o câncer?
A discussão sobre proteção solar tem sido gradualmente eficiente para evitar o câncer de pele. Entretanto, poucas pessoas estão atentas à necessidade de proteção dos lábios, que são ainda mais desprotegidos do sol por não produzirem melanina. Portanto, ainda nos cabe, enquanto cirurgiões-dentistas, médicos da boca, informar a população por meio de campanhas e palestras.

Qual a sua motivação para o trabalho voluntário?

Venho realizando as palestras voluntárias por um chamamento interno, uma gratidão especial por tudo que recebi do povo brasileiro: educação pública de qualidade que recebi na USP, com bolsa de estudo de mestrado e doutorado. Procuro retribuir à sociedade por meio da difusão do conhecimento pelo que ela já me deu. É minha vocação social! Trata-se de um trabalho despretensioso que me dá imensa satisfação quando percebo nos olhos de quem recebe a importância daquela informação transmitida. Desenvolvo este trabalho simples pela paixão pela odontologia, mas principalmente como melhor recurso para promover saúde e salvar uma vida. Este é um ideal como cirurgiã-dentista. Como rotariana, é minha visão de participação ativa para a sociedade como cidadã e como ser humano. O sentimento de gratidão e a retribuição à vida pelo muito que ela me deu me trazem muita satisfação. E isso me traz verdadeira felicidade!

 

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