RÁDIOS
Três Lagoas, 20 de abril

Correr sempre mais

Amizade, saúde e amor pela natureza

Por Valdecir Cremon
15/12/2017 • 18h22
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O grupo “Caveiras da Cascalheira”, especializado em trilhas e maratonas, é exatamente assim, formado por aficionados por corridas, caçadores de saúde e aventuras, e ainda, aplicados quanto às regras e limites do esporte. Antes de entrar em detalhes técnicos e em provas disputadas pelos “caveiras”, é necessário explicar a origem do nome do grupo. 

Tudo começou praticamente em uma brincadeira, em que um dos atletas observou que praticantes de motocross desenharam duas caveiras, no início da trilha e no morro, certamente por razões próprias. 
A caveira também é símbolo de grupos de motoqueiros por representar resistência e, claro, por dar um aspecto “mais duro” ao esporte. Alguns dizem que a caveira representa a imortalidade. Entre os corredores, estas possibilidades não chegaram de cara. Primeiro surgiu a capacidade de observação porque, sempre que o grupo passava por ali, as imagens eram usadas como símbolos de localização e orientação de trajetos. 

Daí, disse José Ricardo Moreira, fundador do grupo, não demorou a surgir a ideia de associar os desenhos ao local, a região conhecida por Cascalheira, na zona Nordeste de Três Lagoas. “Quem teve a ideia do nome fui eu porque todo mundo do grupo falava ‘vamos passar pela caveirinha’ ou, então, ‘vamos correr até o caveirão’ cada vez que íamos à Cascalheira. E isso foi crescendo, crescendo até eu adotar o nome e ter aprovação de todo o grupo”, disse José Ricardo, o “Vein” do grupo.
Então, o que partiu de uma brincadeira e não passou despercebido por um observador transformou-se na marca de um grupo que faz das corridas um estilo de comportamento, busca por saúde e bem-estar. Entre todos os objetivos da participação em competições, treinamento aprimorado e a busca por técnicas e inovações é a conquista/manutenção de mais saúde. As idas e voltas da Cascalheira são, na verdade, buscas por melhor condicionamento físico e mental.

O grupo também surgiu da união de atletas que treinavam em ruas, no Runners Pró-Saúde Três Lagoas, que preferem corridas em montanhas e na área rural e não apenas em asfalto. A modalidade, também conhecida por cross mountain, é apropriada para quem gosta de natureza, busca ar puro e prefere o barulho e cheiro de mato.
“Eu fui convidada para correr na Cascalheira e adorei, há dois anos e meio, quando eu corria apenas em ruas. Mas, pelo menor impacto e o contato com a natureza foi muito bom”, testemunha Ceci Lima, de 59 anos, três filhos e sete netos. Mesmo com pouco tempo praticante, em 23 competições, ela conquistou 21 troféus. “Nem me lembro de quando fui ao médico pela última vez. Meu ‘casamento’ é com a corrida (risos)”,complementa. O próximo desafio para ela e duas amigas é disputar a Corrida de São Silvestre, dia 31 de dezembro deste ano, na capital paulista. Para isso, o trio já conseguiu dois patrocinadores.
Foi porque a corrida “em terra” possui menos impacto em relação ao asfalto, além das belezas naturais e da companhia de amigos aficionados do esporte, foi o que levou Octacílio Correia Spindola Neto, o “Netão”, a trocar as corridas de rua pelo Caveiras da Cascalheira. “Estou no grupo desde o início e pratico o esporte porque preciso cuidar bastante de minha saúde.

O médico recomendou que eu faça sempre exercícios aeróbicos, e alterno a corrida na Cascalheira com bicicleta. Isso me ajuda bastante, além da possibilidade de desfrutar do ambiente e do visual da Cascalheira, que é muito bonito”, disse. E também há os que migraram de outros esportes. José Carlos Prata Cunha Jr., ou simplesmente, Kalu, um ex-campeão de motocross, com títulos nas categorias amador e intermediária, é um deles. “Sempre gostei de competitividade, e vi na corrida uma oportunidade a mais de fazer amigos, reforçar laços de amizade, a busca pela saúde e a possibilidade de desfrutar conscientemente da natureza”, afirma. A prática de esportes, para Kalu, é uma maneira em que todos podem obter melhor condição de saúde, principalmente combater o stress do dia a dia. 

INDICAÇÃO
O preparador físico Márcio Atalla, um dos mais respeitados do mundo, disse em entrevista à rádio CBN 93,7 Mhz – emissora integrante do Grupo RCN de Comunicação, em Campo Grande (MS) – que a prática de exercícios físicos é, hoje, um diferencial importante para a longevidade e a qualidade de vida. E com custo muito baixo. “A corrida é, junto com a caminhada, sem dúvida, a mais barata e independente de todas as atividades que promovem benefícios físicos. Isso porque basta um par de tênis e disposição para começar”, disse. 

AMIZADE E FOCO
Vein é uma espécie de símbolo do pedestrianismo em Três Lagoas. É, no mínimo, um aficionado pelo esporte, capaz de enfrentar desafios, superar obstáculos pessoais e, de quebra, atuar como treinador de colegas e de outros atletas. A especialidade dele: grandes distâncias - desafios próprios de atletas profissionais do Brasil e do mundo. E foi em cima de grandes nomes do esporte que, em 2005, o líder dos “caveiras” derrotou atletas carregados de medalhas, troféus e títulos mundo afora em provas de grandes distâncias. 

Numa competição internacional, disputada em São Caetano do Sul (SP), o três-lagoense enfrentou diversos obstáculos, além de competir como iniciante entre “cobras” de maratonas. “Foi minha primeira competição em uma ultramaratona de 24 horas”, conta. 
A prova de resistência foi disputada em uma pista com regra definida de 12 horas em sentido horário e 12 contra. “Treinei quatro meses para essa prova, mas não sabia o que tinha pela frente”, revelou, em relação aos adversários. Pra começar, viajou apenas com o dinheiro das passagens e de alimentação. Dormiu na arquibancada do estádio da competição, tinha apenas um par de tênis, um calção e uma camiseta. 
“Os outros [competidores] tinham equipes de apoio, barracas para água, remédios e pessoal de suporte, como massagistas”, revela. “Me perguntaram o que eu tinha de apoio e eu disse: nada. Somente eu mesmo. Foi aí que conheci um dos maiores atletas desta modalidade em todo o Brasil. Luciano Prado me deu todo apoio, inclusive durante a prova em que eu estava muito exausto. Ele viu minha situação, cansado, com dores, precisando de remédio e colocou toda sua equipe à minha disposição”.

Na prova, Vein liderou até 14 horas de competição, quando precisou de atendimento. “Com 16 horas não podia nem andar”, conta. Mas, remédios e uma massagem oferecidas por Luciano Prado deram ao atleta condição para concluir a prova. “Cheguei em quarto lugar, dentro do que tinha me proposto, mesmo enfrentando atletas campeões mundiais. Eu tinha uma promessa da ex-prefeita Simone Tebet, de que seu chegasse entre os cinco primeiros desta prova, ela Civil de Três Lagoas), eu precisava deste apoio. Por isso, me esforcei, fiz amizades, superei os desafios e consegui. Era o que eu precisava para ter certeza de que esse é meu esporte favorito”, comemora. A vida do atleta de 56 anos, avô de cinco netos – um deles competidor de corridas, aos 10 anos de idade - é composta pela rotina da busca de condicionamento físico apropriado. “Treino a semana toda. Folgo só um dia na semana, para descanso”. E não é apenas correr. “São treinos específicos, de velocidade, de condicionamento, por exemplo, que exigem bastante foco”, disse.

MARCA PARA SEMPRE

“Comecei correr em julho do ano passado [2016], com incentivo do meu esposo Marciel de Brito Perboni. Ele sempre me convidava a participar, e fui resistente no começo porque queria aproveitar o sábado pra dormir até mais tarde. Um dia, no final da tarde ele me convidou para correr no quartel [do Exército] e aceitei. Naquele dia, demos duas voltas inteiras na pista. Fiquei admirada porque não pensei que seria capaz de conseguir. Logo em seguida começamos participar com mais frequência do Grupo Runners Pró-Saúde Três Lagoas. Depois disso, não paramos mais e conhecemos a galera que treinava na Cascalheira. Logo começamos treinar trilha com o grupo.  A corrida fez maravilhas pelas nossas vidas. Até mesmo nos ajudou a superar uma crise conjugal porque passávamos mais tempo juntos, partilhando dos mesmos objetivos, círculo de amizades e cuidados com a saúde.

Além das viagens em grupo, participação nas corridas, entre outras ações pertinentes aos ‘caveiras’ foi um momento de descoberta de novas amizades.Meu esposo também pedalava. E no dia 25 de agosto, sofreu um acidente que ceifou sua vida, numa fatalidade, porque nos últimos três anos ele pedalava naquela rodovia [BR-158] e também corríamos naquele mesmo trajeto até a ponte do rio Sucuriú.
Ficamos juntos por quase 13 anos...
No momento estou me adaptando a esta outra realidade da minha vida, e a corrida está sendo fundamental para que eu consiga seguir em frente, bem como o apoio de nossos familiares e os amigos que a corrida me trouxe”.
Áurea Rafaela Dias Figueiredo

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