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É preciso equilibrar a cabeça

A importância da psicoterapia para pacientes que passam pela cirurgia bariátrica

Por Lúcia Spazzapan
11/04/2017 • 16h38
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A psicóloga especialista em psicoterapia psicanalítica - Lúcia  Helena Spazzapan, relata que inúmeras questões emocionais podem estar envolvidas, tanto nas causas como nas consequências da obesidade. "Acredito que na maioria das vezes estão, mais intensamente, envolvidas na causa. Problemas emocionais, como a depressão, a compulsão, a ansiedade e os distúrbios de personalidade podem levar a um consumo desenfreado de alimentos e, ou bebidas e, consequentemente, a um grande aumento de peso". 

Normalmente, quando buscam a cirurgia bariátrica, as pessoas já passaram por diversas dietas, muitas frustrantes, outras até mesmo mirabolantes, e tiveram dificuldade em aderir ao tratamento. Por isso, é bem possível que encontrem, também, dificuldades em lidar com as mudanças exigidas após a cirurgia, em destaque para o novo hábito alimentar; um outro estilo de vida. 

A cirurgia bariátrica tem sido usada para o emagrecimento e o consequente resgate da saúde. Mas a obesidade envolve o estado físico e emocional da pessoas, com isso a cirurgia sozinha pode não resolver este problema. A realização desta, sem o acompanhamento psicológico, vai expor a pessoa a uma nova realidade que ela, talvez, não seja capaz e suportar. Na realidade, a psicoterapia deveria ser iniciada antes da cirurgia, sendo que a realização dessa deveria ocorrer no momento em que o paciente se encontrasse preparado e suficientemente fortalecido para encarar o que vem depois. Apesar da cirurgia bariátrica ser um método relativamente recente, já existem estudos mostrando que o emagrecimento súbito, em muitos casos, incorre em quadros psiquiátricos tais como: sintomas depressivos, ansiedade, uso de substâncias (álcool, fumo, droga, etc.), alterações de comportamentos (por exemplo: o comprar compulsivo, o sair compulsivo, adultério, tornar-se mais agressivo) e até mesmo a ideação suicida, dentre outras situações.
Muitas vezes, as pessoas esperam da cirurgia mais que um emagrecimento, anseiam por soluções; esperam uma transformação em suas vidas, tornar-se outra pessoa, pois encaram a obesidade como o motivo de todos os seus problemas e não é bem assim. Almejam, por exemplo, melhorar o casamento ou conseguir sair de um relacionamento, alcançar um melhor emprego, não viver mais a frustração do abandono e da rejeição nas relações interpessoais, entre outras coisas. Muitas vezes, esperam até mesmo mudanças nas características da sua personalidade.

RISCOS E CONSEQUÊNCIAS
Sendo a obesidade, quase sempre, usada como defesa (escudo) psicológica, ao emagrecer a pessoa pode se deparar com a realidade: suas dificuldades mais profundas não eram causadas por ela. Então, o (a) psicoterapeuta estaria junto ao paciente trabalhando o seu emocional. Deixando para a cirurgia apenas aquilo que lhe diz respeito - o emagrecimento. Preparando a pessoa para a adesão aos cuidados exigidos pela cirurgia, assim como ajudando-a a lidar, de uma forma mais realista, com as consequências do emagrecimento, e as frustações das dificuldades pessoais que perdurarão apesar deste processo. 
O papel do psicólogo clínico é auxiliar este indivíduo a passar pelas mudanças emocionais mais profundas, as quais ele antes atribuía à obesidade e que, ao emagrecer, acaba percebendo que estas dificuldades não acompanharam os quilos que se foram. E, ao permanecerem, poderão lhe trazer outros transtornos ou até mesmo o retorno da obesidade, o que não é incomum. Tratando de sua obesidade como um todo, no campo físico e psíquico, este indivíduo terá maior chance de gozar de uma boa qualidade de vida e desfrutar deste novo corpo conquistado.

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