RÁDIOS
Três Lagoas, 20 de abril

Tão iguais, tão diferentes

Vívian, Aline e Lilian. Histórias que se cruzam

Por Valdecir Cremon
15/12/2019 • 15h11
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Um sorriso, dois, três. Uma bronca, duas, três. Outro sorriso, um carinho, um conselho etc. etc. etc. É mais ou menos assim os encontros de todos os dias de Vívian, Aline e Lilian. Três irmãs. Médicas e cúmplices, com DNA idêntico e histórias que se cruzam incessantemente desde pequenininhas, em um roteiro que começa em Buritis, uma pequena cidade na região Norte de Minas Gerais, e se estende pelo planalto central, Rio de Janeiro e São Paulo, e o retorno à terra da origem familiar, Três Lagoas. Toda a história sem perder a essência que tem a família no centro, mesmo sendo diferentes no temperamento e absolutamente iguais nos valores e conceitos.

Vívian e Aline cursaram Medicina na mesma turma da mesma faculdade, na Universidade Severino Sombras, em Vassouras (RJ), por seis anos seguidos. Foram colegas de classe e cúmplices em tudo o que rola em um curso longo, exigente e, invariavelmente, penoso. Lilian, a “rapinha do tacho”, havia ficado para trás, em Brasília (DF), para onde a mãe Dulcemar Alves Moreira havia se mudado de Buritis com as filhas ainda pequenas exatamente em busca de estudo que não era oferecido na cidade que o pai, o médico cirurgião Mizael Garcia Moreira Filho, havia escolhido para trabalhar desde o começo de sua carreira, na época, em que Vívian já se mexia no barrigão da mãe, aos sete meses de gravidez. 

A história do trio que adotou a Medicina como profissão tem raízes dentro de casa e episódios que marcam separações e uniões. Em todos, com um friso que as evidencia: o vínculo familiar.

 

Tristonha pelo distanciamento das irmãs, Lilian convenceu o pai a também estudar em Vassouras, aos 16 anos, onde concluiu o antigo colegial, prestou vestibular e foi se formar médica na mesma faculdade das irmãs. Pegou o diploma aos 23 anos, seguindo os passos das irmãs e do pai que também se formou em Vassouras, na mesma faculdade, na turma de 1978.  Daí em diante, a história das irmãs que cresceram vendo um pai dedicado ao trabalho e a mãe empenhada no estudo delas se fundiu em torno de uma profissão encarada mais do que como o sacerdócio declarado no juramento de Hipócrates.Após o diploma de Lilian, a especialização médica separou o trio mais uma vez. Mas, foi por pouco tempo.

Aline seguiu para São Paulo (SP) em busca de uma certificação em clínica médica, a área escolhida originalmente pelas três. Vívian e Lilian ficaram no Rio de Janeiro. Não demorou muito para o trio se juntar, outra vez, em terras paulistanas e, enfim, enfrentar o mercado de trabalho da Medicina. 
Para Lilian, logo veio o casamento e a chance de morar em Assis, na região de Marília (SP), com o marido, mas já com o sonho de se fixar em Três Lagoas. Foi outra separação do trio de irmãs. Mas, novamente, por pouco tempo.

Enquanto isso, sozinhas na capital paulista e com uma boa estrutura de trabalho, Vívian e Aline se viram tentadas a voltar a Três Lagoas por várias razões. Uma delas, a raiz familiar. A outra, que Lilian já havia se mudado, conseguido vaga em plantões no Hospital Auxiliadora, e conquistado a confiança de pacientes, da classe médica e feito amigos. Um pulinho e as três estavam novamente juntas, agora, em Mato Grosso do Sul, com contato mais direto com a fazenda, a família, as tradições culturais e tudo o que sempre as ligaram, desde o gosto por chamamé, músicas de acordeom e tereré.

Hoje, com Vívian e Lilian casadas e Aline ensaiando o casamento, elas têm rotinas bem semelhantes em casa, no trabalho e no trato com planos para o futuro, mirando no que fez o pai há muitos anos, em Buritis, onde hoje é dono do único hospital da cidade, o São Lucas, porque os pilares da família também são de empreendedorismo. As três seguem, agora, os passos do doutor Mizael, que transformou um consultório em clínica e a clínica em hospital. Em pouco tempo, elas vão trabalhar juntas num mesmo endereço, na clínica que já tem nome: Cardiodherma – um local exclusivo para atendimento de cardiologia e dermatologia.

Temperamentos e jeito próprios

Canceriana, romântica, centrada e com valores familiares irretocáveis. É Aline Alves Moreira, a do meio. “Sou 100% família. Quero estar sempre no circuito da vida das minhas irmãs, sem descuidar da proximidade com meus pais, meus avós e todos da nossa família”, afirma, como parte dos planos. “Acho que nasci para ser mãe... mas acabei ficando por última para casar” (risos). O riso fácil, inclusive, é marca registrada da dermatologista que, desde pequena, queria ser médica. 

Está prestes a usar aliança na mão direita, como ensaio para passar o anel para a esquerda, em casamento com o veterinário três-lagoense Caio Schiasso.
Sem muitas diferenças, mas com temperamento forte que se denuncia nas alterações do rosto e no tom da voz, Vívian Alves Moreira Fidelis é concentradora. Quer saber de tudo o tempo todo das irmãs, da família, e frisa que é cumpridora de compromissos, principalmente horários. É, também, a cardiologista que deixa tudo de lado para dar atendimento a um paciente que precise, absorve problemas dos outros e busca soluções antes de tudo. 


É também a “mãezona” que também abriu mão de parte de sua juventude para cuidar das irmãs, inclusive com suporte financeiro, orientações e carinho que, muitas vezes, buscava reduzir a distância com os pais. É o mesmo que faz, hoje, com a filha Isis, de quem só se desgruda para dedicar-se ao trabalho.
O casamento com o também médico Fernando Fidelis é um elo a mais na corrente familiar. “Ele e o irmão Guilherme [Fidelis] são exatamente como eu e minhas irmãs: extremamente unidos”, diz. Fernando e Guilherme também são médicos e irmãos “grudados”, que dividem a mesma formação familiar, conceitos e valores.

Lilian Alves Moreira Camargo é a mais adaptável a situações divergentes por ser decisiva e corajosa. Foi ela quem puxou a fila da vinda do trio a Três Lagoas, há pouco mais de três anos, quando ainda morava em Assis. Se caracteriza como desbravadora e com saliência de comportamento de quem sabe de onde veio e para onde está indo. O que tem de igual com as irmãs são os valores familiares, a fé católica e o cuidado com as outras pessoas – um predicado que identifica os pais, copiado por elas e já formatado para ser transmitido à filha Helena. Lilian é casada com o pecuarista e futuro veterinário Valdinei Camargo. 

É pós-graduada em Dermatologia, com formação em clínica médica e, como as irmãs, dá plantões no hospital. Sua rotina se completa entre o trabalho na clínica, no Auxiliadora e com a família.

A tristeza que tomou conta dela quando as irmãs foram estudar em Vassouras já revelava que a cumplicidade do trio também tinha semelhança quanto ao futuro profissional. Fixar moradia e trabalhar em Três Lagoas foi a confirmação do velho, mas sempre atual ditado: 
um bom filho à 
casa torna.

Pai e mãe: pilares

“Minha mãe abriu mão da profissão, em Buritis, onde era advogada, para ir com a gente para Brasília, quando fomos estudar. Ela foi decisiva e teve apoio total do papai. Ele queria que fôssemos médicas e fez todos os esforços para isso se tornar realidade”, revela Aline, com uma ponta de emoção, outra de certeza e um punhado de orgulho.

Detalhista, conta que o pai convidava o trio para assistir cesarianas e partos, no hospital, para estimular a decisão delas pela área médica. Ele era, também, quem as incentivava a cuidar da saúde, dos cabelos, roupas, amizades e dos estudos, sempre com a assessoria de dona Dulce.
“Meu pai me orientou porque sabia que eu queria ser dona do meu próprio negócio, como médica. E eu vi que ele estava realmente certo porque eu sempre quis ser profissionalmente independente”, conta Vívian ao mostrar fotos de montaria em um cavalo e ao imobilizar um bezerro, na fazenda da família, quando planejava estudar Veterinária.

As relações familiares são muito fortes em tudo o que fazem. Não deixam de citar, nunca, que são a quarta geração de uma família tradicional, de origem rural, que se formou ao redor de criações e plantações de roça. Também por isso, visitam os pais em Buritis rotineiramente, vão à missa sempre juntas e preservam valores familiares como herança deles e dos avós paternos Mizael Garcia Moreira e Izabel Marques Moreira (in memoriam) e os avós maternos Guimario Alves e Ivanda dos Santos Alves.

A herdade do trio se completa com trabalho e dedicação absoluta a conceitos, projetos e valores, numa determinação que a cada dia enriquece o sobrenome Alves Moreira. É esta a base do que as três fazem sem medição de esforços, dedicação e cuidados – quem as conhece de perto percebe sem fazer nenhum esforço que formam um trio, uma equipe, uma família. E ainda que não abrem mão de princípios e projetos. Quem só sabe delas agora, por esta reportagem, pode se espelhar em ao menos um ponto: no amor que as une. Será suficiente. Nisto são ainda mais iguais.

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