RÁDIOS
Três Lagoas, 26 de abril

Tenho ligações fortes com a Costa Leste

O deputado estadual Amarildo Cruz que revela detalhes de sua origem e sua luta na defesa das causas sociais

Por Leandro Elias
12/07/2017 • 15h55
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Em 1989, ajudou na criação do Sindicato dos Agentes Tributários de Mato Grosso do Sul (Sindate), onde foi presidente e secretário geral. Buscou a união da categoria e contribuiu em momentos importantes da história do sindicato. Hoje, aos 54 anos e na sua terceira passagem pela Assembleia Legislativa, Amarildo prioriza áreas como Meio Ambiente, Habitação, Igualdade Racial e Saúde e é considerado, por muitos, como o deputado da região Costa Leste. Amarildo Cruz é o nosso entrevistado desta edição.

1- Deputado, como e onde teve início sua carreira política?

“Minha carreira política começa na época de movimento estudantil, faculdade de Direito e diretório acadêmico. Em seguida, na organização do Partido dos Trabalhadores, na minha cidade natal, depois em Campo Grande, de uma forma mais intensa a partir do final dos anos 80, quando começo militar, fortemente, no movimento sindical. A partir daí, atuei de maneira cada vez mais contundente no PT, onde fui secretário geral, vice-presidente, tesoureiro, presidente, e sou, até hoje, membro do diretório estadual. Estou no terceiro mandato de deputado, depois de ter ocupado funções importantes na Secretaria de Fazenda do Estado, como secretário adjunto, superintendente da Central de Compras do estado e presidente da Agência Estadual de Habitação. É uma militância política que já soma 30 anos. Ela me deu as condições de conhecer, profundamente, a realidade da administração pública de Mato Grosso do Sul”.

2- Este ano o Mato Grosso do Sul vai completar 40 anos de criação. Nosso Estado já encontrou sua vocação econômica?

“Não tenho dúvidas que o estado encontrou sua vocação econômica desde a sua origem. O Mato Grosso do Sul que é um estado que foi criado da divisão do Mato Grosso, que completa neste ano 40 anos. Mato Grosso do Sul é um dos estados mais ricos e um dos estados mais bonitos da nossa federação. Praticamente 70% do Pantanal brasileiro está no Mato Grosso do Sul. É um estado rico em recursos hídricos (bacia do rio Paraguai e do rio Paraná), é um estado com clima agradável, com topografia favorável para o desenvolvimento, é um estado que faz fronteira com dois países e com cinco estados... Então é um estado que tem características que muitos estados brasileiros não têm, inclusive, estados mais desenvolvidos no ponto de vista econômico, mas que não têm o potencial de riqueza que o nosso estado tem. Nosso estado é um estado novo e a vocação de desenvolvimento de Mato Grosso do Sul está na agricultura e na pecuária.

Perseguir o objetivo do desenvolvimento industrial, por exemplo, eu acho que pode ser um dos motivadores do desenvolvimento, mas não pode ser feito de uma forma em que não se leve em consideração a vocação natural que nós temos para a agricultura, pecuária e turismo. Nós temos que explorar, com racionalidade, essas potencialidades que nós temos. Portanto, nós temos uma matriz econômica definida que não é vergonha para ninguém, mas eu acho que nós temos que potencializar de uma maneira inteligente. Qualquer forma de desenvolvimento que seja feito de maneira equilibrada, inteligente e eficiente, leva ao desenvolvimento com qualidade. É isso que nós temos que perseguir. Um desenvolvimento que leve em consideração a qualidade de vida das pessoas, a distribuição de renda, a forma como vive o povo do nosso estado”.

3- Qual sua avaliação sobre o atual momento econômico do nosso Estado?

“Acho que o atual momento econômico do nosso estado nos remete a se fazer uma reflexão sobre as vertentes de desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Eu acredito que nós precisamos fazer com que a nossa economia, cada vez mais, possa ser pujante, fortalecida, mas jamais caminhar sem a preocupação com a melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Nós não temos a necessidade de apostar apenas em uma forma de desenvolvimento. Portanto, volto a dizer: a pecuária tem que ser fortalecida. O estado tem vocação, tem tradição para a pecuária. O que precisa ser feito? Seja ela de confinamento ou em extensão, ela tem que agregar valores e gerar empregos. É necessário que tenhamos mais pessoas trabalhando nessa atividade, que tenhamos uma desconcentração de renda, uma valorização do produto e uma qualidade cada vez melhor daquilo que nós produzimos. É o aprimoramento da pecuária.

Da mesma forma com a agricultura. A agricultura extensiva é importante para a balança comercial do país, para exportação, mas nós precisamos fortalecer a agricultura familiar, o pequeno produtor. Nós precisamos garantir crédito, precisamos potencializar, precisamos ser autosuficientes naquilo que consumimos. E isso nós só conseguimos fazer com o aperfeiçoamento da agricultura e com o aperfeiçoamento das atividades agrícolas desenvolvidas no nosso estado. Em relação ao desenvolvimento industrial, nós precisamos conhecer melhor o nosso estado e potencializar nas áreas em que ele tem uma vocação maior para o desenvolvimento industrial. Nós temos a divisa com São Paulo, que é o estado mais desenvolvido da nação e dotada de rodovias, hidrovias, ferrovias, gasodutos... É a região de Três Lagoas, Bataguassu, Aparecida do Taboado, Brasilândia. Ela precisa ser mais potencializada, privilegiada, fortalecida pelos gestores do nosso estado.

O grande empresário quer vir para um lugar onde ele esteja perto do grande mercado consumidor, onde ele possa ter um fácil escoamento daquilo que ele produz. E essa é a melhor região que nós temos. O estado precisa ser o indutor do desenvolvimento com essa compreensão. Fortalecer essa região nesse aspecto. Efetivamente, aquilo que o estado se beneficia do desenvolvimento econômico nessa região, ele distribui entre todas as outras regiões. Não dá, por exemplo, você querer que um grande empresário saia de São Paulo e venha se instalar em uma região que ele não queira. Então, se existe uma facilidade, uma aceitação maior para essa região, acredito que nõs temos que potencializar cada vez mais essa região e explorar as potencialidades das outras regiões, como turismo, pecuária e agric tura, por aqueles que administram Mato Grosso do Sul”.

4- O Mato Grosso do Sul é um celeiro de grandes artistas. Temos políticas de incentivo eficientes e abrangentes?

“Que o nosso estado é uma potência do ponto de vista cultural, não tenho dúvida. Acredito que nós não temos uma política eficiente de apoio e incentivo à cultura. Muito do que se cria, se faz, se produz de arte e cultura no nosso estado é feito, muitas vezes, com o suor e sacrifício dos artistas. Nós temos uma lei de incentivo à cultura que não tem gasto, nos últimos anos, 1% da receita líquida do estado. Isso é muito ruim. Nós temos muita coisa boa sendo feita no nosso estado. Tem muita produção de arte, música, literatura, culinária, mas que não se discute. Me parece que não é uma prioridade, por parte do governo do estado, e, nas prefeituras, é difícil você achar uma prefeitura que dê uma atenção especial para a área da cultura. Eu vejo, na verdade, uma dívida muito forte com a arte e a cultura do nosso estado por parte do poder público. Esse setor precisa ser mais bem conhecido, entendido, valorizado e priorizado para que, efetivamente, nós possamos ter uma política adequada. A arte e a cultura de Mato Grosso do Sul é rica porque tem influência de países, línguas, etnias e é única no nosso país. Precisa ser mais bem conhecida e compreendida para que possa ser colocada na ordem do dia como prioridade”.

5- Como tem sido sua atuação em relação à Costa Leste? O senhor tem defendido os interesses dos municípios do Bolsão e, por causa disso, muitos já o consideram o deputado da Costa Leste. Qual a razão dessa identificação?

“Essa identificação se dá muito em função da minha história e trajetória política. Eu sou nascido e criado nas beiras do rio Paraná. A minha atuação como fiscal se deu muito tempo nos municípios de Bataguassu, Brasilândia, Santa Rita do Pardo, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Três Lagoas, Nova Andradina... Eu trabalhei longos anos da minha vida nessa região. Conheço todo o potencial econômico, de desenvolvimento; os recursos; a influência que tem do grande mercado consumidor, que é o estado de São Paulo; a história e a cultura dessa região.

A minha história, minha identificação com a Costa Leste é natural. Quando você defende uma causa com conhecimento, com argumento, com justificativa, é muito mais convincente, tem um poder maior. E no meu papel como deputado, principalmente, é a minha função. Eu sempre vi essa região do nosso estado como uma região extremamente diferenciada no ponto de vista de suas potencialidades de desenvolvimento. Então, é necessário que o governo sempre dedique uma atenção maior às potencialidades das regiões do nosso estado, para que a gente possa fazer isso de uma maneira inteligente. Me orgulho muito de ter essa identificação com uma região tão importante do nosso estado”.

6- Na sua opinião o governador Reinaldo Azambuja e André Puccinelli podem vir a disputar o governo do Estado em 2018 ou isso é improvável?

“Acho que tem uma possibilidade muito grande, sim, de que o atual governador possa ser candidato à reeleição e o ex-governador André também possa ser candidato. É um quadro provável. É possível também que tenhamos outra candidatura. Da esquerda ou do centro-esquerda. Acho que temos um quadro muito indefinido ainda e acho que, com certeza, nós temos possibilidade de ter, em 2018, uma disputa forte pelo governo do estado, com outras forças que se articulam”.

7- O senhor é um deputado de um partido de oposição. O posicionamento político atrapalha sua atuação ou isso não afeta institucionalmente seu trabalho?

“É uma oposição feita de uma forma responsável, que dialoga. Ela, na verdade, exerce um papel fundamental na democracia. É dessa maneira que nós exercemos nossa função. Tenho um diálogo muito tranquilo com o governador, que foi, inclusive, colega de parlamento, e com o seu secretariado. Eu acho que quando a gente tem uma postura séria, honesta e verdadeira, com autonomia para concordar e discordar dependendo do entendimento, isso acaba fazendo você ser respeitado. As pessoas lhe respeitam por conta disso. Então, não tenho nenhuma dificuldade. Pelo contrário. Muitas questões que, dentro do governo, não conseguem ser levadas adiante, a gente consegue fiscalizar, debater e aperfeiçoar, mesmo sendo oposição. É um papel fundamental para a qualidade da ação política que é feita, de uma maneira geral, dentro do parlamento”.

8- O senhor hoje ocupa um cargo importante na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. Tem planos para comandar a Casa no futuro?

“Sem dúvida, a segunda secretaria é importante. Eu busco exercer a função da forma mais responsável e dedicada possivel. Temos ajudado na organização da Casa e das atribuições da segunda secretaria, buscando qualificar as ações que são desenvolvidas nessa função. Dirigir a Casa é consequência do trabalho que a gente faz. Não descarto essa possibilidade, mas não é um grande objetivo político. Vindo como uma consequência do nosso trabalho, acho natural.

Mas, na presidência, na segunda ou na primeira Secretaria, a dedicação e o compromisso com a transparência é cada vez maior, com certeza absoluta. Isso tudo tem que ser parte da gente para ser colocado em prática em qualquer espaço de poder que a gente ocupe. Portanto, busco exercer a função com maior compromisso, seriedade, austeridade e se isso, lá na frente, tiver como consequência dirigir a Casa, a gente pode encarar esse desafio. Mas o maior compromisso é fazer um grande mandato e, na função de segundo secretário, fazer uma grande gestão”.

 

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