RÁDIOS
Três Lagoas, 16 de abril

Você conhece seu filho?

Problemática da relação pais e filhos na atualidade

Por Tatiane Simon
21/09/2017 • 15h51
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A partir da Revolução Sexual, que se deu nos anos 60, tivemos o início de uma transformação nos costumes e valores em nossa sociedade. Muitos conceitos foram questionados, entre tantos outros o da educação mais repressora. Neste momento, ergueu-se a bandeira da educação mais liberada, pois a educação mais repressora passou a ser vista como possível causadora de traumas na vida dos filhos.
Tempos atrás as crianças eram tratadas como miniadultos, sem direitos a desejos e opiniões, sem direito a cuidados especiais em respeito à sua condição de criança.
A geração atual passou a se comportar com os filhos no extremo oposto. Passando a tratar as crianças como imperadores. Seus desejos não podem ser frustrados. Com muito medo de traumatizá-los, medo de errar e perder o amor dos filhos.
Ganhamos muito com estas mudanças, mas também perdemos. Hoje estamos próximos de nossos filhos, mas perdemos a mão no que se refere ao respeito. 
A criança precisa conhecer o amor, o respeito, a amizade e a consideração dos pais, mas também os limites que ela tem que respeitar para tornar-se um ser humano apto para a vida em sociedade.
Respeitar o filho, dar ouvido aos seus desejos e anseios, ouvir sua opinião, conhecer a pessoa que é o filho, são as coisas boas que ganhamos com esta mudança. O que não podemos é provocar uma inversão na ordem das gerações entre pais e filhos. Esta é uma das piores coisas que podemos fazer aos nossos filhos.
Os pais precisam pôr limites para os filhos crescerem. Isso não é ser um pai ou mãe repressor, mas pais que mostram para a criança o que é certo e errado; que corrige o filho quando este está errado e o reconhece quando está acertando. 
A energia da criança precisa ser bem canalizada. E para isso os pais precisam ajudar os filhos com isso. 
Eu penso que o melhor que podemos fazer a um filho é deixá-lo ser ele mesmo, e vamos ajudando-o neste percurso com amor, muito diálogo e limites. As crianças não têm noção do que podem e não podem, os pais precisam informar as crianças sobre isso. Mesmo quando sabem o que podem ou não, elas testam nossa autoridade para se sentirem protegidas. Não precisamos fazer isso de forma autoritária. Precisamos manter o que acordamos com elas. Elas pedem por limite.

Hoje em dia, também temos visto que as crianças não podem ser crianças, no sentido comportamental, se não, parece que os pais estão falhando. As crianças podem e devem ser crianças, podem fazer birra Etc. O que precisamos é estar ali, e mantermos nossa palavra e, depois de passado a situação de stress, conversarmos com a criança sobre o ocorido. Para a criança é difícil ouvir um não, não poderem realizar o desejo, e muitas vezes ,“enlouquecem” quando o escutam. As crianças precisam sentir que suportamos o seu melhor e o seu pior que não deixará de ser amada por isso. 

Os pais de hoje querem muito a amizade dos filhos. Podemos ser amigo dos filhos, o que é nocivo é perder o posto de educadores, daqueles que estabelecem o certo e o errado, daquele que protege e que põe limites. Quando falo de amigo, não é tratar o filho como se fosse uma pessoa da nossa idade, confidenciando nossos problemas para ele, mas estar abertos para ouvi-lo, contextualizarmos a idade e orientá-los. 
Os filhos precisam de orientação adequada e segura, além de alguém que os ouça e os aconselhe. Precisam de alguém que funcione como um porto seguro onde recorrer quando surgem as dificuldades e problemas. Repreendê-los de forma amorosa quando estiverem errados, e para ensiná-los a respeitarem a si mesmos e ao próximo, preparando-o para a vida em comunidade.

 Quando invertemos o sentido desta relação, colocando-os no trono, e deixamos de cumprir nossa função de educadores, as crianças crescem sem orientação, sem limites, sentindo-se sozinhas e desconectadas de suas famílias, pois lhes faltam um modelo forte, seguro e afetivo que elas possam admirar, seguir e respeitar. As crianças, de uma certa forma, sabem de sua inexperiência, de seus impulsos, sabem que não podem estar no comando da família ditando as regras, sabem que precisam que as cuidem e as orientem. Quando isso não ocorre, o estrago é grande. Elas podem acabar desenvolvendo uma maturidade precoce e um falso self, no sentido de serem miniadultos ou mesmo dando vasão ao que há de pior nelas, sem limite para seu lado cruel, que, nós pais, precisamos orientar. No primeiro caso, elas acabam se cobrando e se preocupando por coisas que elas não têm mente para cuidar. E que se para o adulto pode ser um problema, para a criança será algo imensurável. No segundo caso, elas acabarão provavelmente desenvolvendo uma raiva destes pais por quem não se sentem cuidadas.
No modelo oposto, o modelo autoritário, também não é bom e não cabe mais na atualidade. Neste modelo, o filho se sente desconsiderado no seu desejo, se sente não visto como pessoa, não se sente aceito e que precisa ser algo diferente do que é para ser amado. Também pode acabar desenvolvendo um falso self no sentido de tentar ser sempre aquilo que pensa que os outros querem, e dando mais importância aos outros do que a si mesmo desenvolvendo uma baixa autoestima. Estes filhos não se identificam com estes pais.
Então, precisamos encontrar o equilíbrio; Não existe fórmula, nem manual, pois cada filho e cada pai e mãe são únicos em sua natureza. Todos precisamos ser respeitados, na verdade, vamos descobrindo com os filhos a nossa fórmula que servirá para aquele filho. Penso que precisamos ficar longe de fórmulas prontas e confiar na nossa intuição e sensatez, sem muito medo. Repetir o modelo rígido, pensando “meu pai foi muito duro, mas olha o que virei”, não dá!

O que deu para você pode não dar para seu filho. Precisamos criar a nossa forma e não copiar os erros de nossos pais. Não precisamos disso. E outra coisa, muitas vezes o que dá certo com um filho, com o outro não funciona então, cada relação é mesmo única.
Outra coisa, dar o exemplo não é só falar, mas sim comportar-se. O comportamento e a fala devem estar coerentes, se não, não funciona. E quando falo de considerar o desejo do filho não significa que vamos realizá-lo. É muitas vezes dizer para a criança: “eu sei que você quer isso, mas não podemos realizar”. “Eu sei que você está sentindo muita raiva da mamãe, mas vai passar”. O que também é muito diferente de quando os filhos nem podiam desejar, nem podiam sentir raiva. Precisamos é suportar a raiva de nossos filhos sem temer a perda de seu amor, tendo a consciência de que estamos procurando fazer o melhor. 
A educação é feita com base no afeto e no limite que podemos dar aos nossos filhos, a partir daí cada pai e mãe faz da forma que pode fazer, respeitando também sua própria personalidade. 

 

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