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Incentivos e diminuição de juros são grande impulsionadores do mercado

Presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis, Eli Rodrigues, falou sobre atual cenário do setor

Por Beatriz Magalhães
23/05/2020 • 08h00
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O setor imobiliário está recebendo importantes incentivos como aumento de carência e diminuição de taxas, como a Selic, apresentando a menor porcentagem da história. Em entrevista ao quadro Cenário CBN 2020: Desafios e Perspectivas, o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis – Creci MS, Eli Rodrigues, foi entrevistado pelo jornalista Ginez Cesar, e falou sobre o cenário e as perspectivas para o setor neste momento.

O mercado de imóveis é conhecido por aquele que gosta de alugar, comprar, seja para investimento ou casa própria. Como os corretores ou o mercado estão se ajustando a esse momento de pandemia?
Rodrigues O momento, em geral, passa por uma transformação. O setor já passou por grandes crises no Brasil e o mercado imobiliário sempre se reinventou. Já houve momentos em que não tínhamos financiamento e precisávamos vender, então foi criado um plano de financiamento direto das construtoras, por exemplo. Uma série de medidas que se faz diante das crises. Hoje temos uma nova perspectiva. O Governo Federal estendeu para as novas compras um período de carência e isso vem trazer uma certa firmeza do ponto de vista macroeconômico. Sabemos que se houver do governo um apontamento que essas medidas vão perdurar, as pessoas vão repensar o negócio. É normal a retração nesse momento. Mato Grosso do Sul é um pouco diferente de muitos lugares hoje no Brasil, então temos que fazer uma própria análise. Nós temos um salário que é fixado por funcionários públicos e militares. Não temos grandes indústrias que estariam sofrendo o impacto neste momento. Também temos a maioria das nossas atividades funcionando e isso faz com que as pessoas, mesmo aquelas que já estavam começando, pensem em terminar a sua compra. Outros que estavam procurando o momento de fazer seu investimento, encontra agora condições excelentes para a compra. As taxas de juros são as mais baixas da história.
Com base nisso, o momento é de apreensão, mas você acredita que quem olhar com mais atenção pode encontrar oportunidades?
rodrigues Exatamente. Se você fizer uma análise, até antes do lançamento dessas novas taxas e modalidades de financiamento lançadas pelo governo, ou você estava do ‘Minha Casa, Minha Vida’, ou você estava no ‘SBPE’. Isso dificultava, porque a pessoa, muitas vezes, que tem uma alta renda, não conseguia entrar no “Minha Casa, Minha Vida” e também não conseguia realizar financiamento por fora, já que as taxas estavam elevadas. Neste momento, nós temos as melhores taxas e também não temos mais limites para financiamento do ‘SBPE’. A pessoa que ultrapassasse a renda, saía para uma taxa de juros muito alta, hoje essa taxa já fica com um valor bem abaixo, aumentando a condição de compra desse cliente.

Essa semana o Governo está lançando uma linha específica para fomentar o setor, quais detalhes sobre isso?
Rodrigues O governo já tinha lançado este ano R$111 bilhões para o mercado imobiliário e lançou agora mais um aporte de R$ 43 milhões. Isso significa que essas medidas vão ser acompanhadas pelo governo de acordo com o desfecho do mercado. O que ele (governo) não quer é parar as construções por causa dos empregos. Neste lançamento, o governo está fazendo adiantamento para os construtores, parcelas que são liberadas de acordo com a construção, estão sendo antecipadas para que as construções não parem. Nós temos hoje no Brasil um déficit de aproximadamente sete milhões de habitações. Então isso é importante porque o mercado tem que crescer. No começo de 2020 nós percebemos uma leve melhora. O imóvel, por ter um valor alto, é um projeto para longo prazo, os financiamentos são de cerca de 30 anos. 

De cada 10 pessoas que compram um imóvel, quantas recorrem ao financiamento?
Rodrigues Olha, o financiamento, na realidade, é atrativo para muita gente. Com raras exceções, ele sempre foi necessário para que se possa haver as vendas para o comprador. Então o financiamento sempre foi importante para o mercado. Quando nós não tínhamos essa possibilidade, os negócios eram bem menores. 

Existe uma estrutura de financiamento hoje que alavanca o setor?
Rodrigues Sim, inclusive, dos bancos oficiais aos particulares. Eles têm interesse, e dentro disso taxas de acordo com o cliente. Hoje a oferta de crédito para o setor imobiliário é muito grande e isso provoca uma nova análise nas pessoas. Essa é a hora, a taxa Selic está hoje em 3%, o que significa muita coisa para quem já teve a 14%.

Hoje as compras estão muito mais interessantes, do ponto de vista financeiro, não só como casa própria, mas também como um investimento?
Rodrigues Sim, como investimento porque tivemos um alinhamento dos preços. Hoje o setor já está bem instabilizado, apresentando uma melhor qualidade. O que percebes no mercado é que todo mundo começou a procurar imóveis com melhores condições, porque o preço melhorou. O corretor de imóveis hoje, é importante nas negociações porque temos diversas modalidades de financiamento. Nesse ponto, quando você vai fazer um negócio o corretor intende da situação e vai mostrar qual a melhor modalidade para cada caso. É verificado renda para poder dar uma consultoria na área de financiamento, que como é longo, precisa ser pensado e estudado de acordo com as condições do cliente. 

O CRECI criou uma plataforma para serviços on-line, especificamente para atender os corretores do Estado. Como funciona?
Rodrigues Até o ano passado, tínhamos alguns departamentos de atendimento, como ouvidorias, que eram on-line, hoje todos os serviços, inclusive para o corretor também é. Nós inauguramos a plataforma com todos os serviços disponíveis no Creci, para que os corretores de imóveis tenham mais tempo para a vida particular, sem precisar ir a uma delegacia ou sede do Creci para mexer com os documentos necessários. Agora tudo pode ser feito on-line e isso está ajudando a ganhar tempo, ainda mais com a pandemia, quando os atendimentos são todos pré-agendados. Essa inauguração veio em boa hora. Esse projeto já está em desenvolvimento, foi um ano de planejamento e pela plataforma o corretor consegue realizar todos os serviços que ele precisa, como inscrições, pedidos de baixa, certidão, entre outros. 

Olhando o mercado imobiliário nacional, que situações o senhor avalia que ainda precisa mudar para melhorar o andamento do mercado, e claro, consequentemente do corretor e de todos que estão envolvidos nesse mercado? 
Rodrigues O que eu vi nessa pandemia foi um aperfeiçoamento profissional. Nós proporcionamos uma a capacitação melhor para o corretor. Hoje já não podemos ser meros apresentadores de propostas ou apenas intermediadores. Precisamos dar também uma assessoria, e para isso é preciso estar capacitado. Uma dificuldade que eu vejo, por exemplo, é que as dificuldades ainda são as aprovações dos financiamentos. Você tem as vezes condições que o comprador precisa fazer uma análise. Porque em algumas situações a pessoa tem um comprometimento de renda, então nesse caso a análise precisa ser feita para saber qual a capacidade do seu cliente. Não dá para você fazer apenas uma simulação e concluir o processo. Na hora que o corretor manda a documentação vai ser feita uma análise, onde será levada sempre em consideração pelas instituições financeiras e isso faz com que as vezes as pessoas se decepcionem nesse momento. Portanto, é melhor fazer uma aprovação do cliente antes, para ele não se frustrar depois. Isso fará diferença na maneira de trabalho. A maioria dos corretores já pré-aprovam o cliente. Hoje pode ser feito a aprovação antes, porque assim você já tem como saber qual a possibilidade que o cliente tem de compra e qual imóvel se encaixa em seu perfil.

Nós estamos em maio, ainda temos sete meses de muita incerteza pela frente, mas o setor está recebendo mais uma linha de incentivo. Como os corretores estão avaliando o mercado daqui para frente?
Rodrigues A leitura que nós fazemos hoje é vencer primeiro a barreira do medo dos compradores. Então mostrar outras situações que já passamos, para que as pessoas entendam que o mercado imobiliário continua sólido, sem a tendência de cair, ao contrário. A partir do momento que os rendimentos baixam no mercado financeiro, todo esse público que costuma se arriscar um pouco mais, vem para o mercado imobiliário. Isso já aconteceu em anos anteriores, quando tinha quem comprasse, mas não tinha quem vendesse. A perspectiva não é de uma recuperação rápida. Eu acredito que dentro dessa perspectiva, com pés no chão, todos vão conseguir fazer um bom negócio, dar uma nova dinâmica para o mercado imobiliário. Como já disse, estamos privilegiados a respeito de não sofrermos tanto com o impacto da pandemia. Existe uma esperança, que é importante tanto para o vendedor quanto para o comprador, de que o negócio será concretizado sem as dificuldades que passamos em alguns outros lugares. Temos, por exemplo, esse financiamento, com suspensão das prestações por seis meses, dando um incentivo. Quem já tem o financiamento pode estender por até seis meses, também, apesar de divulgado só até quatro prestações, mas a Caixa Econômica Federal admite até um espaço maior para isso. E em cada banco, que tem seu próprio financiamento, as pessoas têm a oportunidade de negociar. Estamos vivendo um momento de perspectiva e muita negociação, isso em toda a cadeia do mercado. 

Há notícias que muitas pessoas migraram de outros investimentos para poupança, que é tradicional, pela segurança. O senhor acredita que possa haver isso com o imóvel, em relação a investimento seguro?
Rodrigues É com isso que vamos trabalhar daqui para frente. No momento em que se espera a decisão dos clientes, você tem esses investidores, que com o baixo rendimento da poupança e de outros fundos, vai migrar para o mercado imobiliário. Até porque existe a possibilidade de locação, onde se tem a garantia de valorização imóvel. Nós temos um levantamento que nos últimos anos a poupança perdeu bastante para os imóveis. Essa situação leva as pessoas olharem, o que vai começar a massificar agora, e isso vai trazer uma nova oportunidade no mercado imobiliário. 

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