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Queda de ponte isola região de Jardim

Produtores locais já vinham enfrentando problemas com o transporte e acesso às propriedades depois do desabamento da ponte de madeira sobre o córrego Guardinha, em fevereiro do ano passado

Por Redação
28/02/2018 • 10h00
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O desabamento parcial da ponte de concreto sobre o rio dos Velhos, construída em 2014, durante fortes temporais na semana passada, isolou uma importante região produtora de grãos e de boi gordo no município de Jardim. O prefeito do município, Guilherme Monteiro, decretou estado de emergência para conseguir recursos e recuperar a estrutura em caráter emergencial.

A correnteza do rio deslocou um dos blocos da ponte de concreto, interditada pela prefeitura, e interrompeu o tráfego na estrada vicinal que dá acesso à área serrana do município, distante 25 km da cidade. A travessia foi construída pela mesma empresa que edificou a ponte sobre o rio Santo Antônio, em Guia Lopes da Laguna, a qual desabou em efeito dominó em janeiro de 2015 e está sendo reconstruída pelo governo do Estado.

Ponte de concreto cedeu em um dos pilares. Agesul abrirá processo para investigar as causas.

“Com pouco mais de três anos de uso, a ponte cedeu, devido às chuvas intensas que caíram na região, e os nossos produtores, tanto os grandes como os pequenos, estão contabilizando um prejuízo muito grande”, relatou o prefeito. Segundo ele, a situação se agrava com a falta de alternativas de acesso para escoamento da produção de soja, que está sendo colhida, e a saída de gado em pé para os frigoríficos.

Prefeito Guilherme Monteiro: prefeitura e Agesul buscam alternativa para atender produtores.

“Pagando o pato”

A produção de soja na região está ameaçada de ser perdida com a interrupção do tráfego. A família de agricultores que arrendou a Fazenda Ribalta, a poucos metros do rio, vive um drama. “Se a gente não conseguir sair com essa soja, vamos à falência. Investimos tudo que tínhamos numa lavoura de 400 hectares e não colhemos 10% por falta de local para armazenar. Estamos desesperados”, conta o lavrador Felipe Decarli, 25 anos.

A família de Felipe arrenda a fazenda há três anos e esperava um bom lucro com esta safra, com estimativa de colher mais de 20 mil sacas de soja. Mas a queda da ponte destruiu também o sonho de quem é agricultor familiar. “Não tiramos três mil sacas e o tempo de colheita é curto”, lamenta Felipe, na margem do rio. “O governo passado construiu uma ponte mal feita, sem cabeceira, e agora pagamos o pato.”

Agricultor familiar, Felipe teme pelo pior: “se a gente perder essa soja será a nossa falência”.

Ponte terá perícia

Em visita à região, o prefeito de Jardim anunciou uma medida paliativa: com o apoio da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), a prefeitura iniciará a recuperação e cascalhamento da estrada que corta o banhado da região conhecida como Água Amarela, para garantir a passagem de caminhões com soja e boi. “É a única alternativa que dispomos”, disse Guilherme Monteiro.

A Agesul, em Campo Grande, já abriu processo para contratar técnicos que vão periciar a ponte sobre o rio dos Velhos, para definir as causas e convocar a empreiteira responsável pela obra para refazer o lance que desabou. Análises preliminares, segundo o órgão da secretaria estadual de Infraestrutura, apontam que houve afundamento de um dos jogos de esteio de sustentação da ponte e rompimento da cabeceira.

Assentados improvisaram uma ponte no Guardinha; caminhões passam por dentro do córrego.

Crianças sem escola

Os produtores locais já vinham enfrentando problemas com o transporte e acesso às propriedades depois do desabamento da ponte de madeira sobre o córrego Guardinha, em fevereiro do ano passado, também em consequência das chuvas. O córrego é passagem obrigatória para as 200 famílias de agricultores dos assentamentos Guardinha e Recanto do Miranda.

Os moradores improvisaram uma pinguela com capacidade para uma tonelada, mas os caminhões têm que passar por dentro, em manobra arriscada, puxados por tratores. O caminhoneiro paranaense Villi Lenz, que transporta a soja da região, disse que conseguiu carregar apenas cinco cargas. “Já estava difícil atravessar o córrego, agora sem a ponte (de concreto), estamos sem frete, amargando o prejuízo”, fala.

Para os produtores dos assentamentos, o isolamento vai muito além das dificuldades de levar a produção (leite, mel e hortifrutigranjeiros) para vender na cidade. Sem a ponte do Guardinha, os ônibus escolares não transitam e as crianças da comunidade não tem como ir à escola. “A gurizada está sem estudar porque só passa carro pequeno na ponte improvisada”, diz Adão Marques, 54, do assentamento Guardinha.

Ponte será licitada

A construção de uma ponte de concreto no córrego, em substituição à de madeira, está orçada em R$ 1,5 milhão, a ponte está em processo de licitação, informou a Agesul. “Essa ponte nova é a nossa esperança, será a redenção da região”, comemora Abel Morgiroti, 72 anos, dono do Sítio Fome Zero, no Recanto do Rio Miranda.(Subcom)

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