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A armadilha dos 4% em 2009

Por Redação
06/12/2008 • 06h30
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala em 4% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009 para animar o auditório. Em conversas reservadas, ele sabe que não vai dar. Insiste no otimismo público para tentar injetar ânimo nos agentes econômicos. Cumpre o papel de presidente.
Mas esse excesso de otimismo tem lá os seus efeitos negativos. Gente importante no mercado financeiro está achando que o governo poderá fazer alguma besteira econômica para atingir a meta de 4%. No caso, uma farra fiscal.
Temendo eventual besteira, esses agentes do mercado financeiro são ainda mais conservadores ao planejar o futuro, o que ajuda a derrubar ainda mais a possibilidade de um crescimento maior do PIB.
Registro: Lula não fará uma farra fiscal. Vai manter o superávit primário em 3,8% do PIB, o que já é uma economia brutal em tempos de vacas magras. Mas o que importa não é o que fará. Agora, importa a impressão que ele e sua equipe econômica estão dando. Uma coisa é priorizar, corretamente, o crescimento da economia. Outra é forçar a barra.
Mais uma inconveniência de estipular a meta de 4% para 2009. Ela simplesmente não será atingida. Quando sair o resultado, a leitura será de decepção, de derrota. Uma meta menor talvez propiciasse um efeito político mais positivo, talvez desse a sensação de vitória do país num momento em que o planeta inteiro vive uma crise.
Quando era ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho não caía nas armadilhas dos jornalistas. Instado a estipular uma meta de crescimento do PIB, ele respondia que achava que seria um número bom, que seria positivo. Mas não fixava uma taxa. Justamente para evitar o desgaste de explicar por que não atingiu a meta.
Na quinta-feira (04/12), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ensaiou um recuo. Em encontro com sindicalistas, disse que o crescimento do ano que vem deverá ficar entre 3,5% e 4%. Numa declaração, a ministra já cortou meio ponto percentual. Nos bastidores, colegas de governo dizem que soltarão rojão se o país crescer pelo menos 3%. E muitos deles acham que 2% é, no cenário de hoje, uma previsão mais realista e que poderá ser um número bom na comparação com o desempenho econômico de outros países.

Kennedy Alencar é colunista

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