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A outra versão da verdade

Por Redação
10/12/2008 • 06h00
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Dias atrás passando pelos canais da TV deparei com um programa muito bizarro. Em suma, o programa apresentado pelo dono da emissora consistia em interrogar um convidado, sendo suas respostas analisadas por uma suposta máquina da verdade ou o detector de mentiras também conhecido como polígrafo, se as mesmas fossem todas aceitas o participante ganhava um prêmio no fim da entrevista. A questão da verdade é tema fundamental para pensadores desde os tempos mais remotos, é, sem dúvida, um assunto complexo. Muitos consideram a verdade uma ilusão, portanto, é impossível defini-la. No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche dizia que a verdade é um ponto de vista. Partindo do pressuposto que a verdade não existe, o que há é a versão interessada de fatos. Já a falsidade, a mentira, esta sim, está sempre presente. Em relação à falsidade Nietzsche dizia que: mentir, desviar o sentido, trapacear seriam faltas graves do ponto de vista de uma moral pessoal, mas seriam menos danosas, se fossem como ele chamava “mentiras de vida” e promovessem avanços da justiça social. Nos bastidores do poder é comum a difusão da falsidade para justificar algum ato, quase sempre deparamos com versões de fatos segundo algum interesse. Por exemplo, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, Goebbels, com uma retórica meticulosamente calculada levou o povo alemão a acreditar naquilo que, naquele momento, lhes era mais interessante. O discurso do ministro da propaganda do Partido Nacionalista Alemão conduziu a nação germânica a vislumbrar o nirvana, ou, o Terceiro Reich. A grande mídia (considerada o quarto poder) quase sempre apresenta fatos importantes segundo seus interesses. Lembro-me do debate entre os presidenciáveis Lula e Collor, em 1989, promovido pela emissora de TV aberta que detém 40% da audiência e 60% das verbas publicitárias. No dia seguinte ao debate, em seu noticiário noturno, a emissora editou o programa segundo o que mais lhe interessava. Presidentes estadunidenses sempre foram exemplos didáticos em mascarar fatos. Em 1982, o governo Reagan promoveu a invasão de Granada, alegando que ali havia assumido um “governo socialista”, já, em 1989, no governo de George Bush, os EUA invadiram o Panamá e prenderam o presidente Manuel Noriega, “indiciado” por tráfico de drogas. Em 2003, o presidente George Walker Bush, amparado pelo primeiro ministro britânico Tony Blair, veio a público, e, em nome da paz mundial, tentou justificar a invasão no Iraque. Segundo a versão de Bush, aquele País possuía forte arsenal em armamento químico, e assim, o ditador Saddam Hussein precisava ser deposto. No episódio ficou comprovado que tais armas nunca existiram, entretanto, os objetivos da ação foram plenamente atingidos já que o “ditador” estava silenciado para sempre, e os poços de petróleo iraquianos seguros sobre a tutela dos EUA. Mais recentemente, após o anúncio da descoberta de reservas gigantescas de petróleo no litoral brasileiro, o chamado pré-sal, a Quarta Frota Naval norte-americana foi acionada para efetuar manobras em mares latino-americanos. Quando questionado sobre tal ato a resposta oficial do governo estadunidense foi o de combater o tráfico de drogas e de armas. Seria engraçado ver a participação do porta-voz do governo norte-americano no programa de TV citado no início deste texto.

Edivaldo Romanini é professor

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