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Caindo na real

Por Redação
06/02/2009 • 06h00
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Terça-feira quentíssima, povo na av. Afonso Pena balançando bandeiras, comissões de recepção no aeroporto mostram que mordi a língua pelo menos num ponto.
E é por isso que, rapidamente, venho reconhecer esse ponto antes que alguém comece a me apontar como “do contra”, posição antipática em qualquer tipo de festa.

Eu havia dito que Campo Grande não está pronta para a Copa porque é uma cidade que, tradicionalmente, destrói seus equipamentos urbanos. O Morenão, o Moreninho (ginásio de que a população mais jovem nem ouviu falar), o Lago do Amor e a própria estrutura do campus universitário, foram detonados pela própria Universidade que deveria dar exemplo.

Não há times de futebol nem memória sobre os que existiram. Com o tempo, o mesmo povo que foi à Afonso Pena ontem abandonou os estádios e passou a nem ligar para jogos no Morenão, no Taveirópolis, coisa que não é diferente no resto do Estado.

Campo Grande não tem um Pronto Socorro próprio. Usa o da Santa Casa, pagando migalhas para remunerar – e mal! – seus médicos e sua estrutura de ferro-velho. Não tem um serviço público de saúde decente – parte dos festeiros que foram à Afonso Pena sofre diariamente nos Postos de Saúde da Cel. Antonino, das Moreninhas e do Aero-Rancho.

Hospitais, Campo Grande só tem um funcionando precariamente, já que o Rosa Pedrossian é apenas um sorvedouro de recursos, o que, aliás, não muda entra e sai governo. O Hospital Universitário é uma piada, nem merece comentário.

Certamente, parte dos verde-amarelos que agitavam bandeiras ontem faz parte do contingente de desempregados que abriram 2009 sob o signo da recessão econômica e, não seria diferente, põe suas esperanças nas atividades econômicas geradas com a Copa.

Enquanto apontava falhas clamorosas em uma cidade que “acordou” pela Copa, via pela TV a multidão fazendo festa na avenida Afonso Pena. Mas não há absolutamente errado com essa festa. E é por isso que venho ressalvar meu artigo anterior.

Reconheço que se não havia milagre que estimulasse as obras do aeroporto Antônio João, embora o povo de Campo Grande fosse o mesmo, o merecimento fosse também igual, agora, com a Copa, já temos uma nova promessa no ar. Embora sempre houvesse gente sofrendo com a estrutura aeroportuária, só a Copa antecipou a obra em quatro anos!

A cidade, que só ficava limpa e enfeitada em 26 de Agosto, foi, como diria Odorico Paraguassu, lavada e enxaguada para receber o Senhor CBF Teixeira. Então, há esperança de que os festeiros parem de atirar garrafas pet e plástico na beira das estradas e das ruas. Pelo menos esta semana.

Os assaltos, aparentemente, deram uma falsa trégua, embora os jornais mostrem que os ladrões continuam ativos assaltando ônibus em Água Clara, estuprando em Dourados, arrombando casas e fazendo golpes-relâmpago na Capital. A festa só abafou o lamento.

Reconheço, ainda, que se o governo pagar o cheque-promessa dos investimentos no estádio, em transporte viário, na rede hoteleira, o povo, pelo menos, está pronto para a festa.

O povo sempre quer fazer festa. Sempre que houver ponto facultativo, sempre que houver ônibus de graça (minha empregada comemorou o ônibus a 1 real na terça-feira, quando no resto da semana sacoleja em ônibus lotados, terminais inadequados, misturando-se aos trombadinhas), o povo estará nas ruas.

Depois do carnaval, depois do passeio, depois da gala, volta-se para casa, para o dia-a-dia, para a tristeza do mundo real. Quem está lendo estas mal-traçadas linhas hoje, sabe do que estou falando. Sim, Mr Blater, ainda não temos nenhuma razão prática para garantir a Copa, mas, se o cheque em branco for pago, não faltará povo para a festa.

João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor

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