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Ensanduichada

Por Redação
12/12/2008 • 06h00
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Deve ser assim que a equipe de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, deve estar se sentindo nos últimos dias. E se sentirá mais ainda nos dois próximos dias, hoje e amanhã, durante a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano. Completamente ensanduichada, de um lado pelo governo, que quer porque quer uma redução nos juros e, de outro por conta da disparada da taxa de câmbio, colocando um belo --ou péssimo-- ponto de interrogação sobre os rumos da inflação no Brasil. Dentro do Banco Central, auxiliares de Meirelles têm dito que, pelo comportamento da taxa de câmbio, o mais correto nesse momento seria aguardar a próxima reunião do Copom para, então, decidir se já começam ou não baixar os juros. Ou seja, observar melhor se essa alta no dólar terá algum efeito sobre os preços. Mas só que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe não enxergam motivos para mais espera. Apontam o dedo para os últimos indicadores sinalizando queda forte no ritmo industrial e redução de preços no atacado.
O fato é que Lula sinaliza ter perdido a paciência com a equipe de Meirelles. Estaria disposto, como antecipou Kennedy Alencar em sua coluna na Folha Online, a até limitar a autonomia do Banco Central caso ele não reduza os juros ou, pelo menos, não adote um viés de baixa nessa última reunião do Copom em 2008. Agora, é esperar e conferir se a pressão mais que explícita do presidente vai funcionar e o BC sinalizará uma mudança na rota da taxa de juros brasileira. Dentro do Banco Central, por sinal, há quem diga que mesmo um viés de baixa, nesse momento, será a senha de que a diretoria do banco cedeu às pressões políticas. Será? Num cenário de economia esfriando e boa parte do mundo cortando taxas de juros, não seria mais adequado também iniciar um processo de redução dos juros no Brasil?

Não é só o Banco Central que anda se sentindo ensanduichado. A Petrobras também está em situação parecida. De Brasília, partem pressões para que a estatal mantenha um ritmo forte de investimentos nos próximos anos, tudo em nome --desejo justo, por sinal-- de evitar uma queda forte no crescimento econômico do país em 2009. Só que a realidade da economia mundial aponta noutra direção, de mais cautela, diante das incertezas sobre o preço do barril do petróleo e da taxa de câmbio no próximo ano. Se vier por aí um orçamento de investimento totalmente irrealista diante do quadro atual, o mercado vai fazer uma leitura ruim dos planos da Petrobras. E ela pode acabar perdendo credibilidade num momento em que precisa fazer exatamente o contrário, reforçar sua posição no mercado.

 

Valdo Cruz é repórter especial

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