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O movimento das oposições

Por Redação
16/04/2013 • 08h44
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Depois das últimas eleições municipais ficou demonstrado que José Serra entrou na fase do que se chama em política de "fadiga de material". Seus índices de rejeição superam 50% do eleitorado. Os entendidos no assunto dizem que qualquer número em torno de 30% (um pouco abaixo ou acima disso), mostrado em pesquisas quantitativas recentes, dando conta de que os eleitores não votariam em determinado candidato de jeito nenhum, representa um sinal seguro de derrota principalmente para cargos majoritários.

Ainda assim José Serra divide as preferências em qualquer eleição presidencial. Gostando ou não dele, o fato é que, acima de qualquer crítica, trata-se de um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Seu último artigo, "Reforma ou Golpe?", é uma visada lúcida e esclarecedora sobre a proposta reformista do PT em torno das intenções ocultas em torno do financiamento público de campanha como remédio salvador para evitar a formação de caixa 2 e reduzir a influência da iniciativa privada nos processos eleitorais.

Por sorte, a própria Câmara dos Deputados percebeu a manobra e sepultou o projeto na semana passada. Mas ficou claro que o petismo não será controlado em seus ímpetos golpistas enquanto a cúpula não se convencer de que a democracia burguesa (goste-se ou não dela) consolida grosso modo a ideia de manutenção da vontade geral num País com tantas desigualdades sociais.

Serra tem ampla experiência eleitoral. As derrotas que sofreu o credenciam como nenhum outro na compreensão da alma dos atuais mecanismos das disputas. Por isso, ele chama a atenção para uma questão fundamental: caso fosse viabilizado o financiamento público de campanha, o PT, além desses recursos, seria imediatamente fortalecido por outras fontes que estão fora do controle institucional.

Ele escreve: "pesaria ainda mais, por exemplo, a importância do caixa 3, representado pela mobilização de recursos de entidades-satélites do partido, como ONGs, sindicatos, centrais sindicais, que fazem campanha para a legenda e seus candidatos sem ter de prestar contas à Justiça Eleitoral".

No fim do artigo, Serra dá um fecho que permite abrir vários campos de análise do processo que virá em 2014: "depois de perder três eleições e vencer outras três com o financiamento privado, o PT empenhou-se em criar um mecanismo que tornasse a sua derrota, se não impossível, muito difícil."

Diante disso pode-se concluir que para viabilizar a reeleição de Dilma será feito "o diabo", como já fora anunciado pela mesma tempos atrás. Talvez os brasileiros tenham a oportunidade de observar em funcionamento a maior máquina de compra de votos em ação na história republicana do País, principalmente porque o quadro eleitoral ocorrerá num momento adverso para o Governo. 

Como se sabe, a economia não estará bombando e o mensalão estará sedimentado na mentalidade política dos eleitores. Mesmo assim, o sistema de cooptação funcionará a pleno vapor. A atual cultura do consumo transforma as pessoas em seres imediatistas que não avaliam o passado nem olham com perspectiva na direção do futuro. Tudo é presente, tudo é agora, nada fica para depois.

Daí é compreensível perceber o atual movimento que vem fazendo as oposições na tentativa de fragmentar o máximo possível o eleitorado. Com Eduardo Campos no nordeste, Aécio Neves no sudeste, talvez o próprio Serra em São Paulo e no Sul (como candidato do PPS) e Marina Silva embalando o eleitorado jovem e os refratários à política tradicional, pode ser que, com tudo isso, a candidatura de Dilma seja mais uma colocada no balaio de gatos.

Assim poderá haver intenso fracionamento do eleitorado, influenciado pelo fator regional e conceitual, o que talvez leve a candidatura petista a um segundo turno com quantidade de votos abaixo do esperado. Se isso acontecer, a aura de imbatível cairá por terra e o resultado final criará um quadro indefinível.

Por enquanto, está claro que a estratégia oposicionista ainda é a configuração de um ensaio que poderá se concretizar (ou não) a médio prazo. Se dará certo, só o futuro dirá. Tudo isso depende de fatores muitas vezes não controláveis pelos atores políticos. Mesmo assim, não será nada fácil tirar o PT do poder. 

*Dante Filho é jornalista e escritor

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