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Panis e circensis

Por Redação
30/01/2009 • 06h00
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Ou como se conhece em português, pão e circo.
A cidade acompanha a discussão entre médicos, membros do Ministério Público e autoridades sanitárias sobre terceirização, dignidade da remuneração do SUS e, como se diz com frequência, os serviços terceirizados são os responsáveis pelo caos na saúde.
Pois é. Agora se vê que o Prefeito de Campo Grande também resolveu terceirizar a Copa do Mundo. A previsão de investimentos de 300 milhões em obras para sediar a Copa já está sendo empurrada para a vítima de sempre, a “iniciativa privada”.
Curioso. O Poder Público marca a festa, instala as luzes, chama o povo para comemorar e manda a conta para os empresários.
Como sempre acontece com as ocasiões festivas, o povo se esquece das responsabilidades do dia-a-dia. Assim acontece com o Carnaval, com o Natal e outros dias especiais. Quem está na Sapucaí não pensa em crise, falta de dinheiro, desemprego, contas a pagar. É só tambor.
Pois bem, o Brasil todo está com o sistema de saúde pública sucateado, com doentes pelos corredores, com equipamentos desativados, sem remédios, sem leitos hospitalares, sem remuneração de serviços médicos condigna.
Uma palavra só representa a salvação para esse quadro desolador: investimento.
Mas, aproxima-se a grande festa e ninguém mais pensa em saúde. Nada para hospitais, nada para aparelhos de ultrassonografia, nada para equipar laboratórios. Estádios, hotéis, tapa-buracos, “vila esportiva” e assim por diante. 300 milhões é o total de investimentos previstos para esse piquenique.
Recentemente, o Estádio do Gama, no Distrito Federal, que gastou 500 milhões de reais, estava realizando uma dessas festas com cores e foguetórios. Um dos festeiros passou mal e foi morrer num hospital sucateado, enferrujado, que fica nas proximidades do próprio estádio. Não deu tempo para chegar a coisa melhor.
Pois bem. Assim caminha a humanidade. Temos 300 milhões para preparar a Copa, temos 25 milhões para revitalizar o centro de Campo Grande, mas não temos 500 mil por mês para custeio do pronto-socorro da Santa Casa, ocupado pelo Município com o casa-da-mãe-joana.
Esperemos que nenhum atleta precise usar o sistema de saúde de Campo Grande, para não estragar a festa.


João Campos é advogado especialista em Direito do consumidor

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