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POLÍTICA

Delações da JBS revelam a face de um Brasil corrupto

Desvios atingem o presidente, ex-presidentes e muitos políticos

Por Otávio Neto
20/05/2017 • 06h16
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E mais uma vez o brasileiro entrou em contato com o que existe de pior na política nacional. A semana entra para a história como aquela em que pudemos conhecer melhor os personagens, valores e os mecanismos utilizados para desviar o dinheiro público. Desta vez foi a vez dos executivos da JBS revelarem como, quando, quem e quanto pagaram aos políticos que aceitaram trocar os interesses do povo brasileiro pelos milhões da empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista. A estimativa inicial deles aponta para um valor superior a R$ 500 milhões pagos em propina a quase 2 mil políticos do país nos últimos anos

A informação foi repassada durante depoimento feito por Joesley Batista à Procuradoria-Geral da República gravado em abril deste ano, para a delação premiada. Os pagamentos por contrapartida a benefícios no governo eram feitos de formas combinadas, explicou o empresário, em uma mistura de doações oficiais em campanhas políticas, caixa 2, notas frias e dinheiro em espécie. 
“Nós fizemos doações oficiais de R$ 400 milhões, e mais cerca de R$ 100 milhões em notas fiscais frias”, explica Batista. O empresário chama mesmo as doações oficiais para campanha de “propina disfarçada de campanha política.” O grupo empresarial entregou documentos e gravações como provas de crimes que aconteciam há cerca de dez ou quinze anos. A delação da JBS coloca a delação da Odebrecht num patamar bastante inferior e pode contribuir para a tão esperada reorganização política nacional.

Lula e Dilma 
Em se confirmando o que foi revelado pelo delator Joesley Batista, o Grupo JBS teria feito pagamentos que chegaram a US$ 150 milhões em propina “em favor” dos ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff, mediante depósitos em contas no exterior. No despacho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte, consta a informação de que Lula teria recebido “vantagens indevidas” na ordem de US$ 50 milhões. Já Dilma seria a destinatária de US$ 30 milhões.
No seu depoimento, Batista citou um valor total quase duas vezes maior, que em 2014 chegou a US$ 150 milhões, ou R$ 360 milhões, na cotação da época, segundo o delator. O ex-ministro Guido Mantega, que atuou nos governos Lula e Dilma, atuaria como intermediário dos pagamentos, e os ex-presidentes teriam conhecimento do esquema. Os negócios seriam realizados no âmbito do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), da Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e da Funcef (Fundação dos Economiários Federais), “com objetivo de beneficiar o grupo empresarial JBS”.

Aécio Neves 
Os irmãos Batista disseram ao Ministério Público que pagaram pelo menos R$ 60 milhões em propina para o senador Aécio Neves (PSDB/¬MG) em 2014. Segundo a delação premiada, em troca do dinheiro desembolsado, o tucano usou o mandato para “beneficiar diretamente interesses do grupo”. Aécio teria ajudado na liberação de créditos de R$ 12,6 milhões de ICMS da JBS Couros e dos créditos de R$ 11,5 milhões de ICMS da empresa ‘Da Grança’, adquirida pela JBS na compra da Seara. Há ainda informação de que a companhia ajudou a comprar partidos para entrarem na coligação da chapa candidata à presidência, encabeçada pelo PSDB – derrotada por Dilma Rousseff. 

Por causa da delação, Fachin determinou a suspensão do mandato de Aécio, além de proibir sua saída do país e qualquer comunicação com investigados ou réus. Seu primo e sua irmã, Andréa Neves, foram presos na operação Patmos, deflagrada na quinta (18). 

Além da revelação do valor de propina pago em 2014, a JBS disse também que após a campanha presidencial de Aécio, naquele ano, “vendeu um imóvel superfaturado por R$ 17 milhões a pessoa indicada por Aécio com o fim de fazer chegar a Aécio o dinheiro”. O pagamento, segundo a delação, por meio de transferência bancária. Os executivos da empresa relataram também que em 2016 o senador pediu mais um valor de R$ 5 milhões.

José Serra 
Joesley Batista afirmou que repassou R$ 6,4 milhões via caixa 2 à campanha do senador José Serra (PSDB/SP) na disputa para à Presidência da República em 2010, quando o tucano foi derrotado por Dilma Rousseff (PT). Em depoimento, o executivo diz que recebeu pessoalmente Serra em seu escritório. Na ocasião, o tucano pediu ajuda para a campanha. “Autorizei a doação de R$ 20 milhões”, declarou Joesley, sem deixar claro se Serra pediu que parte da contribuição fosse feita via caixa 2. 

De acordo com ele, R$ 6 milhões doados à campanha de Serra foram justificados na contabilidade da JBS como sendo referentes a compra de um camarote em uma corrida de Fórmula 1. Joesley não deixa claro em que ano isso aconteceu nem se foi na corrida disputada no Brasil. “Teve, realmente, esse camarote. Teve, realmente, essa corrida de Fórmula 1. Só não podia ter custado R$ 6 milhões”, explicou Joesley. 

Michel Temer
Nem o presidente da República ficou de fora das delações. Segundo delação de Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da holding J&F, grupo controlador do frigorífico JBS, o chefe do executivo brasileiro teria recebido valores próximos a R$ 15 milhões em pagamentos de vantagens indevidas na campanha eleitoral de 2014. A quantia teria como contrapartida atuação favorável aos interesses do grupo.
Os depoimentos, que também foram feitos por um dos donos do grupo, o empresário Joesley Batista, apontam “solicitação de vantagem indevida por parte do atual presidente da República, “Além disso, haveria solicitação de outros valores relacionados à atuação em benefício do grupo empresarial J&F no tocante ao destravamento das compensações de créditos de PIS/COFINS com débitos do INSS”, aponta a delação.

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