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Três Lagoas, 24 de abril

Como anda a saúde da sua boca?

Brasil é o 4º país do mundo em incidência de câncer bucal e o HPV - em epidemia global - é o principal causador da doença

Por Tatiane Simon
14/01/2018 • 07h30
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Uma mudança no perfil do paciente de câncer bucal, especialmente pela diminuição da idade de pessoas diagnosticadas com a doença, é uma das preocupações de profissionais da área. Orientar para a prevenção ao surgimento de casos provocados pelo avanço de contaminações pelo HPV também é a meta de programas públicos, além de iniciativas voluntárias de dentistas. 

Uma delas é a série de palestras realizadas, desde 2017, pela professora-doutora Maria Fernanda Martins-Ortiz Posso, de Três Lagoas, a estudantes e a profissionais de Odontologia.
Maria Fernanda é mestre e doutora pela Universidade de São Paulo (USP). 

Jornal do Povo - Como se iniciaram as palestras sobre Câncer Bucal e HPV?
Maria Fernanda Martins-Ortiz Posso - Minha principal atuação é como ortodontista, mas sou também a única especialista bucal da cidade. Por isso, o Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso do Sule a Associação Brasileira de Odontologia (ABO) me convidaram a fazer uma palestra aos colegas para atualização sobre câncer bucal. O nosso estado iniciou uma campanha para a instituição de uma Semana Nacional de Combate ao Câncer Bucal no Brasil e que foi recém-incorporada ao calendário nacional de saúde, na primeira semana de novembro. Assim, desde 2015, tenho sido convidada ou realizo estas palestras voluntárias. O Brasil é o 4º país do mundo em incidência da doença, sendo que o Mato Grosso do Sul é um dos mais afetados.

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JP - Qual é o perfil atual do paciente com câncer bucal no Brasil?
Maria Fernanda - Houve uma mudança bastante importante no perfil deste paciente nos últimos anos. Antes, o paciente era, principalmente, homem com mais de 50 anos, tabagista ou etilista, ou ainda com muita exposição à luz solar. As áreas mais acometidas eram os lábios, expostos ao sol sem proteção, e a língua. Hoje, devido à epidemia global de HPV, este perfil foi assustadoramente modificado. O câncer bucal afeta homens e mulheres, indistintamente do gênero, de 30 a 45 anos que, muitas vezes, nunca fumaram ou beberam, mas que se expuseram muito precocemente ao vírus. Hoje, as principais lesões de câncer são na língua e garganta. 

JP - E como o HPV pode provocar o câncer de boca?
Maria Fernanda - Existem mais de 200 tipos de vírus HPV. Entretanto, os tipos 16 e 18 são os principais capazes de alterar a proliferação celular em mucosas, como na boca ou no colo de útero, por exemplo. Hoje, cerca de 80% dos cânceres de boca apresentam o envolvimento dos destes oncovírus 16 e 18. Infelizmente, a campanha nacional de vacinação para o HPV não alcança as metas propostas e muitas vacinas podem ser perdidas por expiração da data de validade. Um desperdício incomensurável!  Muito tem se falado sobre a vacina do HPV para a prevenção do câncer de colo de útero, mas o HPV é responsável por vários tipos de câncer como de boca, pênis e outros. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 15.490 novos casos de câncer de boca surgem por ano no Brasil, sendo que um terço destes vem a óbito. 
 
JP - Como o HPV é transmitido?
Maria Fernanda - O HPV é um vírus muito resistente, podendo ser transmitido por objetos, no parto, por meio sexual, principalmente sexo oral. Muitos objetos são compartilhados na nossa cultura, como tereré, narguilé, chimarrão, garrafinhas d’água. Então, não se pode arriscar. O ideal é vacinar o máximo possível da população e o mais precocemente possível, aos nove anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde [OMS], o paciente de maior risco de câncer bucal atualmente é aquele que iniciou uma vida com prática de sexo oral muito precocemente e com um grande número de parceiros. Infelizmente, o preservativo não protege da contaminação por HPV, que fica espalhado por toda a área genital. Por se tratar de um vírus muito infectante, não se pode achar que a contaminação estaria condicionada somente ao ato sexual. O HPV já foi identificado até na superfície de sabonetes. Assim, não se pode perder a oportunidade de se vacinar!

JP - O uso do narguilé é mais ou menos nocivo que o cigarro?
Maria Fernanda - Consumir narguilé por uma hora é o mesmo que fumar de 100 a 200 cigarros. O charuto, cigarro eletrônico, enxaguatórios bucais com álcool, tabaco de mascar, rapé, narguilé são todos de risco para câncer bucal e outros. A associação do álcool e tabaco potencializa em 150 vezes as chances de ter câncer bucal!

JP - O protetor solar labial é tão importante para os lábios quanto para a pele para  evitar o câncer?
Maria Fernanda - A discussão sobre proteção solar tem sido gradualmente eficiente para evitar o câncer de pele. Entretanto, poucas pessoas estão atentas à necessidade de proteção dos lábios, que são ainda mais desprotegidos do sol por não produzirem melanina. Portanto, ainda nos cabe, enquanto cirurgiões-dentistas, médicos da boca, informar a população por meio de campanhas e palestras.

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