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Três Lagoas, 26 de abril

Deficientes ficam mais de dois anos na fila por CNH

Por falta de carros adaptados nas autoescolas e no Detran do município, espera pode chegar a até dois anos

Por Danilo Fiuza/JP
05/03/2013 • 08h00
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A professora Vânia Aparecida de Jesus Queiroz, 36, enfrenta uma luta para conseguir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para deficientes físicos. A demora em fazer as aulas práticas e o teste tem causado indignação. Atualmente, nenhuma das autoescolas de Três Lagoas conta com o carro adaptado para aulas práticas de deficientes. Com isso, os deficientes daqui precisam aguardar o único veículo adaptado do Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran), que atende a mais de 90% dos municípios do Estado.  “Ser deficiente físico em Três lagoas é muito complicado”, desabafou.

Vânia é portadora de paralisia infantil e caminha com auxílio de muletas. Na opinião dela, ter um carro adaptado e a CNH não é luxo, mas uma necessidade de locomoção. “Não tenho forças para caminhar três quarteirões”, disse. E continuou: “não conseguir tirar minha CNH é lastimável”.

A professora iniciou o procedimento em junho de 2011, mas ainda não conseguiu fazer as aulas práticas e o teste. Em agosto de 2012, quando o veículo e o instrutor do órgão estiveram em Três Lagoas, ela estava fazendo uma cirurgia. “Antes de fazer essa cirurgia, eu liguei várias vezes para o Detran. Eles garantiam que o veículo não viria nesse período e que eu poderia marcar a operação tranquilamente. Marquei, fiz a cirurgia e o carro chegou. Não pude fazer. Mesmo assim, eu já estava esperando há um ano”, disparou.

Agora, ela precisa esperar até julho deste ano, quando, segundo o Detran, o carro estará na cidade novamente.

Outra pessoa que esperou anos para obter o documento foi a cadeirante Hellen Cristina Pereira Roman, 31. “Esperei por dois anos para ter em mãos a minha CNH provisória”, contou. Para ela, a lei de acessibilidade ainda está longe de ser cumprida na íntegra em Três Lagoas.

Por conta das necessidades especiais, para Hellen Cristina dirigir, o veículo precisa ter câmbio automático, direção hidráulica, acelerador e freios adaptados. Por essa razão, para que o carro tenha esses dois últimos quesitos, a cadeirante precisa levá-lo a uma oficina especializada e pagar cerca de R$ 2 mil pelo serviço. “Na mídia, a lei de acessibilidade parece tão completa, mas na prática percebo o quanto ela é maquiada”. E disparou: “Por que esse automóvel já não vem de fábrica com todos os detalhes que preciso?”, uma pergunta para a qual a cadeirante ainda não obteve resposta.

DETRAN
De acordo com Sérgio Mateus da Veiga, chefe da Divisão de Centro de Formação de Condutores (CFC) do Detran, o órgão tem um veículo e um instrutor para atender todo o estado. Porém, a instituição montou por questão social este CFC para atender os deficientes físicos que não têm condição de tirar a habilitação em centros particulares. Entretanto, disse ainda que o Mato Grosso do Sul é o único estado brasileiro a contar com esse serviço. Nas demais localidades, o cidadão arca com as despesas nos centros particulares. “Uma aula particular custa em média R$ 50”, frisou. Porém, no Detran o aluno não tem custo. 

Uma opção para agilizar o processo, de acordo com Veiga, é o CFC utilizar o carro do cliente, caso ele tenha um veículo adaptado. Ou ainda, o aluno arcar com as despesas de um veículo vindo de um centro de condutores particular da capital ou de Dourados.

De acordo com Vânia, essas duas alternativas são inviáveis financeiramente. “Não tenho carro adaptado, pois para comprar um com até 30% de desconto, preciso ter a CNH para deficientes físicos, e a opção de trazer um veículo especial de Dourados, por exemplo, fica em média R$ 2,5 mil. É muito caro”. E completou: “Entretanto, o serviço oferecido pelo Detran poderia ser mais ágil”.

Na opinião da professora, o valor para os deficientes tirarem uma CNH é mais caro, em comparação a um cidadão comum. Além das despesas com CFC, as quais são iguais para ambas as pessoas, que estão em torno de R$ 1,1 mil. Os deficientes ainda têm que se deslocar, por conta própria, até Campo Grande para passar por avaliação de uma junta médica. É esta equipe que vai prescrever como deverá ser o carro do deficiente com base nas limitações de cada um. “O ideal é que Três Lagoas tenha médicos credenciados para fazer este exame”, pontuou.

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