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Três Lagoas, 23 de abril

Dom Izidoro fala dos 27 anos em Três Lagoas

Posse do novo bispo está prevista para 3 de maio, quando dom Izidoro retorna para sua terra natal

Por Redação
22/01/2009 • 06h10
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O bispo da diocese de Três Lagoas, dom Izidoro Kosinski, 77 anos de idade, completados no dia 5 de janeiro, e há mais de 27 anos à frente de uma diocese que compreende 10 cidades, divididas em uma extensão territorial de 57.874 km², com uma população estimada em torno de 235.120 habitantes, volta para a sua terra natal, Araucária (PR), no início de maio, quando o novo bispo irá tomar posse.
Dom Izidoro, nomeado bispo pelo papa João Paulo II, em 1981, é o segundo bispo da diocese de Três Lagoas, desmembrada da Arquidiocese de Campo Grande, em 1978, quando tomou posse o primeiro bispo, dom Geraldo Magela Reis, já falecido.
A diocese compreende, além de Três Lagoas, as cidades de Brasilândia, Água Clara, Inocência, Chapadão do Sul, Cassilândia, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Selvíria e Santa Rita do Pardo.
Em entrevista ao Jornal do Povo, dom Izidoro lembrou do seu trabalho “como pastor desta célula da Igreja, que é a dioceses de Três Lagoas” e da satisfação que sente por “haver cumprido uma missão e poder retornar à minha terra natal para descansar”, disse.

JP: Quando o senhor foi nomeado Bispo de Três Lagoas?
Dom Izidoro:
Fui nomeado bispo da diocese de Três Lagoas, para substituir dom Geraldo Magela Reis, em 1981, pelo papa João Paulo II, logo nos primeiros anos de seu pontificado. Tomei posse no dia 9 de setembro de 1981. Portanto, já se completaram 27 anos que estou nesta missão, dirigindo a Igreja Católica da diocese de Três Lagoas.

JP: O que significa o pedido de renúncia, quando um bispo atinge a idade de 75 anos?
Dom Izidoro:
Estou hoje com 77 anos de idade. Com o Concílio Vaticano II, convocado pelo então pontífice, o papa João XXIII, no dia 11 de outubro de 1962 e continuado pelo papa Paulo VI até 8 de dezembro de 1965, a Igreja concedeu aos bispos o direito de renunciarem à obrigação de continuarem dirigindo os trabalhos de suas dioceses, quando completassem 75 anos de idade. Isso é um direito que a Igreja nos dá. A gente reconhece que a idade pesa e outros podem assumir o nosso lugar para o bem da própria Igreja. Faz dois anos que encaminhei ao Papa o pedido da minha renúncia. Custou mais veio agora, com a nomeação do monsenhor José Moreira Bastos Neto, da diocese de Caratinga (MG), para me substituir como bispo da diocese de Três Lagoas.

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JP: O que o senhor irá fazer, quando o novo bispo assumir?
Dom Izidoro:
Sou membro de uma congregação religiosa, a Congregação da Missão São Vicente de Paulo, de origem francesa. Temos uma casa para religiosos idosos em Araucária, nas imediações de Curitiba (PR). Para minha felicidade, esta é a cidade onde eu nasci e para onde quero voltar. É uma bênção poder desfrutar deste descanso, depois de mais de 27 anos de bispado, na diocese de Três Lagoas.

JP: Quando o novo bispo toma posse?
Dom Izidoro:
Por enquanto, não temos nada de oficial ainda. O Direito Canônico diz que o sacerdote nomeado bispo tem prazo máximo de cinco meses para tomar posse na sua Diocese. Segundo conversas que tive com monsenhor José Moreira, ele será sagrado bispo, em Caratinga, provavelmente, no dia 18 de abril. No primeiro domingo de maio, no dia 3, ele toma posse como bispo da diocese de Três Lagoas.

JP: Como o senhor encontrou Três Lagoas, quando assumiu, em 1981?
Dom Izidoro:
Já se passaram 27 anos. Tudo foi muito difícil na época. O maior problema era a falta de sacerdotes e a pouca participação dos leigos na Igreja. Mais da metade das paróquias da diocese não possuía padre. Hoje tudo está bem melhor. Apenas em Santa Rita do Pardo, não temos padre. Além desses problemas de falta de participação ativa dos leigos na Igreja, tínhamos sérios problemas sociais que precisavam ser resolvidos pela Igreja, na diocese de Três Lagoas. A má distribuição da terra, em poder de grandes latifundiários e a questão indígena eram as grandes questões que exigiram o trabalho dedicado da Igreja, naquela época.

JP: Como a Igreja trabalhou para enfrentar essas questões?
Dom Izidoro:
Na pastoral, tivemos a abertura da Igreja para os leigos assumirem sua responsabilidade. Todos somos Igreja e cada um de nós deve participar. Com isso, missões e trabalhos pastorais que antes eram confiados somente aos sacerdotes, foram dados aos diáconos, ministros da Eucaristia, da Palavra de Deus, catequistas e outras pessoas que despertaram e entenderam o significado do que é ser leigo na Igreja. Por exemplo, hoje, possuímos 15 diáconos permanentes e 16 padres. Não é o suficiente, mas é bem melhor do que era em 1981. foi difícil, porque alguns não reconheciam que os leigos também deviam participar ativamente da Igreja, fazendo o que antes pensavam que só os padres poderiam fazer.

JP: Como foi a luta para defender os direitos dos índios na região?
Dom Izidoro:
A maior dificuldade foi solucionar graves problemas sociais, principalmente, as questões da terra, o sofrimento de pais de famílias que queriam trabalhar e não possuíam um pedaço de chão para plantar. Além de tudo isso, a questão indígena da tribo dos ofayé-xavante. Quando aqui cheguei, a própria Funai (Fundação Nacional do Índio) não reconhecia o direito e a existência desses índios na nossa região. A Funai considerava já extinta a etnia dos ofayé. Isso não era verdade. Tivemos muito trabalho com isso e sofremos muita repressão. Não quero nem lembrar o que passei.
Tivemos que recorrer à Justiça, arrumar provas que os índios realmente existiam e possuíam a sua etnia. Tivemos até que ir com um grupo de índios ofayés até o Rio de Janeiro, onde era a sede da Funai, para eles verem pessoalmente, que os ofayés ainda sobreviviam. A Funai reconhecia somente a existência dos índios terena e havia juntado todos os índios desta região em uma única aldeia. Isso não deu certo. A Igreja se posicionou contrária a isso e conseguimos a reserva de uma área da Fazenda Cizalpina, em Brasilândia para os Ofayé. Depois veio a Cesp e a construção da hidrelétrica de Porto Primavera. Os problemas retornaram com o alagamento das terras. Conseguimos para os índios uma área de uns 480 hectares, comprada pela Cesp.

JP: Sabemos que o senhor não gosta de lembrar sobre as dificuldades que passaram, mas houve repressão de poderosos fazendeiros contra o seu trabalho?

Dom Izidoro: Não gosto de falar sobre isso. Nada mais fiz do que minha obrigação de pastor desta Igreja, em dificuldades. Se foram eles que me perseguiram e me prejudicaram de alguma forma, não sei e não tenho provas. Tudo já passou e hoje as coisas estão bem melhores do que antes. Valeu a pena nossa luta. Isso é que é importante lembrar.

JP: O senhor é criticado por sua ausência na vida social e política de Três Lagoas, como bispo da Diocese. O que o senhor acha dessa crítica?

Dom Izidoro: Sempre fui simples e contra aparatos sociais. No entanto, confesso que nunca procurei ficar em cima do muro, como dizem os políticos. A Igreja sempre teve participação ativa nos principais acontecimentos e na história de desenvolvimento de Três Lagoas e de toda a região. De tudo eu estava a par. Nem sempre era eu quem estava lá, mas tinha alguém, membro da Igreja Católica. Temos leigos atuantes em todos os segmentos da sociedade. Nem sempre era possível e calhava a presença do bispo naquele determinado evento. Por outro lado, principalmente, em épocas de campanha eleitoral, fomos sempre procurados pela maioria dos candidatos, que nos pediam apoio e votos. Nisso, sempre fomos cautelosos.

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