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Três Lagoas, 26 de abril

Estamos vivendo os piores dias da pandemia’, diz Geraldo Resende

Em entrevista, secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, falou do atual cenário da doença em Mato Grosso do Sul

Por Loraine França
07/03/2021 • 10h00
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Mato Grosso do Sul bateu recorde nesta semana no número de pessoas internadas com Covid-19. Foram 683 pessoas hospitalizadas. A Secretaria de Estado de Saúde confirmou, ainda, o primeiro caso de contaminação da cepa brasileira do novo Coronavírus em um homem de 37 anos , de Corumbá. Em Campo Grande, hospitais estão lotados e com taxa de ocupação de 100%.

E em meio à essas estatísticas, festas ainda são realizadas em vários municípios. Sobre o cenário da pandemia no Estado, a CBN Campo Grande, integrante do Grupo RCN de Comunicação, conversou com o secretário de Saúde, Geraldo Resende, que avaliou o momento como o mais crítico da pandemia. “Acredito que estamos vivendo os piores dias da Covid-19 em Mato Grosso do Sul”, disse o secretário à jornalista Ingrid Rocha.

Confira a íntegra:
Secretário, qual sua avaliação à respeito da pandemia no Estado?

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Resende Acredito que estamos vivendo os piores dias da Covid-19, em Mato Grosso do Sul. Acredito que esse mês de março será o mais crítico da doença. Se lá atrás apontávamos que deveríamos ter dias terríveis, esses dias chegaram. Chegaram com o resultado, primeiro da ineficiência por parte do governo federal na compra de doses de vacinas suficientes para que a gente pudesse ter imunizado uma parcela maior da nossa população.

Segundo, da desobediência cega e, às vezes, até de uma forma mais dura de dizer, descompromissada com a vida de uma parcela significativa da nossa população. As pessoas teimaram, durante um ano, diante da pandemia, como se fosse uma gripezinha, como se fosse uma doença trivial. E, a doença se mostrou como um comportamento agressivo, letal. 

Podemos afirmar que a nova cepa já circula pelo Estado e que o aumento de internações pode estar ligado à nova cepa?

Resende Temos uma variante de mais de 50% de casos de internações em apenas 14 dias. E o número de óbitos sempre em patamar elevado. Nós não só temos o vírus original, como essa variante, que já deve estar circulando. Já tivemos a detecção do primeiro caso desse sequenciamento em Corumbá.

Esse cidadão é oriundo do Amazonas, mas, já temos indicativo de que a cepa está presente em algumas regiões do Estado, principalmente na região da grande Dourados e Cone Sul. Precisamos confirmar e, para isso, mandamos todas as amostras para São Paulo, que é o laboratório de referência e, também, para o laboratório de Belo Horizonte, Minas Gerais. 

Ainda existe risco de colapso nos hospitais?

Resende Eu estou presenciando neste momento o início de um colapso. Nós temos 100% de taxa de ocupação nos hospitais de referência para o tratamento da Covid-19. Nós não temos vagas de UTI, em Dourados, em Ponta Porã, em Naviraí. Na região que se mostrava mais controlável, que era a de Três Lagoas, já temos taxa de ocupação acima de 80% chegando a 90%. Em Campo Grande, temos vários hospitais com 100% de taxa de ocupação. Estamos trabalhando para aumentarmos leitos de UTI (...). Não existe recurso humano, médico, enfermeiro, terapeutas ocupacionais, não existe técnico de enfermagem. Infelizmente, até para manutenção dos leitos existentes agora, estamos tendo dificuldade.

A população precisa compreender isso. Aqueles que seguiam por teses negacionistas, teses que já estão ultrapassadas, eu espero o mínimo, que eles possam, se tem realmente consciência de que o enfrentamento da pandemia é coletivo, que possam ter um mínimo de consciência para adotarem medidas para que a doença não avance mais em Mato Grosso do Sul. 

Qual é a situação dos profissionais da saúde nesse momento?

Resende Estão exaustos. Estão no limite. Imagine um médico sair da sua casa, colocar a sua vida em risco, ao passar em uma avenida aqui da capital, ver aglomerações em todos os locais, ver inúmeras pessoas sem máscara, se comportando sem essa doença que hoje é a maior tragédia desse século.

Qual é de fato a angústia que deve estar junto com esse profissional? De que vale eu sacrificar a minha vida, sacrificar a vida dos meus familiares, se o conjunto da população está pouco se importando para esse meu esforço, para as recomendações das autoridades sanitárias? E esse profissional, até por instinto de sobrevivência, é levado a pedir demissão, a abandonar o plantão, como tem ocorrido hoje. Não há um sentimento de empatia coletiva. Não há um sentimento de pessoas se colocando no lugar de outras no sentido de colaborar no enfrentamento da doença.

 

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