RÁDIOS
Três Lagoas, 20 de abril

Investigada pelo MPF e PF, Eldorado vê projeto de expansão se distanciar

Prisão de ex- sócio da Eldorado nesta semana, dificulta ainda mais empresa captar recursos para construção da 2ª linha de celulose

Por Ana Cristina Santos
11/03/2017 • 08h56
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Alvo das operações Sépsis, Greenfield e Cui Bono da Polícia Federal, a Eldorado Brasil, empresa de celulose instalada em Três Lagoas, vê a cada dia o seu projeto de expansão se distanciar. A prisão nesta semana do empresário Mário Celso Lopes, ex- sócio do empresário Joesley Batista da holding J&F, que inclui no rol de várias empresas, a fábrica de celulose, pode dificultar ainda mais a Eldorado obter linhas de créditos para financiar a construção da segunda linha de celulose em Três Lagoas. 

A continuidade da expansão da fábrica de celulose depende se a Eldorado irá ou não conseguir reunir os recursos financeiros suficientes para o prosseguimento do projeto, orçado em aproximadamente R$ 10 bilhões. A liberação de linhas de financiamentos, segundo o mercado, por enquanto está comprometida até ocorrer o esclarecimento de operações que permitiram o aporte de capital de fundos de investimento, entre eles, o Funcef da Caixa Econômica Federal, cujo presidente, em caráter pessoal, denunciou a Eldorado e a empresa de Mário Celso Lopes para a aquisição de eucalipto na ordem de R$190 milhões. Situação que motivou investigação da Polícia Federal, que deflagrou na semana passada operações de busca e apreensão de documentos em Andradina, Três Lagoas e São Paulo.

Joesley Batista já declarou que as investigações atrapalham na captação de recursos. “Para uma empresa de celulose, eu preciso de duas coisas: madeira e capital. Madeira, a gente planta ou compra. Capital, a gente precisa estar com a reputação em ordem, né? Essas as denúncias obviamente mexem no mercado. A Eldorado tem bastante caixa, mas esse projeto da nova fábrica é um investimento de R$ 10 bilhões”, disse recentemente o empresário.

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O cronograma inicial, divulgado no lançamento da pedra fundamental do projeto Vanguarda 2.0 em 15 de junho de 2015 pelo presidente da empresa, José Carlos Grubisich, era colocar em operação a nova linha em 2018.  No ano passado, adiou para 2019, e na semana retrasada confirmou ao Jornal do Povo, que a previsão de entrada em operação agora é para o início de 2020.

PRISÃO 

 Mário Celso foi preso nesta quarta-feira (8) na segunda fase da Operação Greenfield, que investiga fraudes em negócios de fundos de pensão com grandes grupos empresariais. Após ficar cerca de dez horas detido na sede da Polícia Federal de Três Lagoas e prestar depoimento, o empresário foi liberado após a Justiça Federal de Brasília acatar habeas corpus ajuizado pelos seus advogados requerendo a sua imediata soltura.

De acordo com o Ministério Público Federal, em novembro do ano passado, a Eldorado firmou um contrato de R$ 190 milhões com a Eucalipto Brasil, de propriedade de Mario Celso e do seu filho, Mário Celso Lincoln Lopes.

O contrato milionário era para o fornecimento de massa florestal de eucalipto para a produção de celulose. Após o fechamento do negócio, uma cláusula do contrato foi retirada, beneficiando Mario Celso em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritários, Funcef [fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal] e Petros [Petrobras].

Segundo o MPF, o contrato teve como finalidade dissimular a real intenção de Joesley de comprar o silêncio de Lopes a respeito dos ilícitos ocorridos na criação da empresa florestal, a fim de impedir o avanço das investigações.  Mário Celso que também é dono de um shopping em Andradina, de propriedade rural em Ribas do Rio Pardo, entre outros investimentos, segundo o MPF, teria conhecimento das irregularidades envolvendo o recebimento de recursos dos fundos de pensão.

A Operação Greenfield foi deflagrada em setembro de 2016 para investigar possíveis fraudes em fundos de pensão de estatais. A operação investiga gestão “temerária e fraudulenta” em quatro dos maiores fundos de pensão do País.
MPF pede o bloqueio de bens de empresários 

O MPF solicitou o bloqueio de bens de Mário Celso, Joesley Batista, e da empresa, com o objetivo de recompor prejuízos causados aos fundos de pensão, estimados em R$ 1,7 bilhão.

Os fundos são sócios da J&F na Eldorado. Juntos, detêm indiretamente 17% da empresa. O pedido de bloqueio de bens do MPF foi feito a partir de denúncia do conselheiro da Eldorado Max Pantoja da Costa, que representa a Funcef.

RELAÇÃO

Segundo o MPF, a relação entre Mário Celso e Joesley é antiga. Em 2005, eles fundaram a Florestal S.A., que recebeu investimentos do FIP Florestal, do qual Petros e Funcef são cotistas. Em 2010, a Florestal foi incorporada pela Eldorado. Dois anos depois, pai e filho venderam sua participação para a J&F. Na época, assinaram termo de compromisso de não concorrer com a empresa nos dez anos seguintes.

Entretanto, por meio de sua empresa MCL, Mário Celso se tornou sócio de uma fábrica de celulose que seria instalada em Ribas do Rio Pardo , o que levou a J&F a entrar na Justiça contra ele pedindo indenização por perdas e danos. Após acordo entre as partes em 2015, o processo foi extinto. Em 2016, Joesley e Mário Celso voltaram a fazer negócios com a assinatura do contrato de fornecimento de eucalipto, sem passar pelo Conselho de Administração da Eldorado.

O estatuto da empresa prevê que contratos superiores a R$ 200 milhões devem ser apreciados pelos conselheiros. Originalmente, havia uma cláusula que permitia a rescisão unilateral do contrato. Um mês após ser firmado o acordo, o pedido de exclusão dessa cláusula foi apresentado ao conselho.
Em relação à segunda etapa da Operação Greenfield, o grupo J&F afirmou, em nota, que “nenhuma das suas empresas foi alvo de busca e apreensão ou qualquer ação policial no âmbito da Operação Greenfield”.

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