RÁDIOS
Três Lagoas, 25 de abril

Letra por letra

O Jornal do Povo nasceu da vontade de homens que representavam uma expressão política na cidade

Por Valdecir Cremon
15/06/2019 • 08h17
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O leitor com mais de 50 anos certamente vai se lembrar – e até matar saudades. Quem tem menos idade, certamente, só ouviu falar ou conheceu por meio da internet. Mas, o que significou, como era possível e quais eram os desafios de compor e imprimir um jornal inteiro letra por letra?

Bem diferente deste texto que você está lendo, composto em um moderno terminal de computador, ágil, cheio de “memórias” e tela colorida; acesso à internet e impressora a laser, editar e distribuir um jornal impresso, quando surgiu o Jornal do Povo, em 1949, era tarefa para poucos.

Escrever um jornal no interior do país passava, primeiro, pela experiência de um autodidata em jornalismo, que de regra eram pessoas formadas em outras profissões, tais como professores, advogados, comerciantes, funcionários públicos, enfim, pessoas que tinham vocação parra escrever artigos, retratar fatos e noticiar os acontecimentos da comunidade por onde circulavam os poucos jornais existentes. Em segundo, era preciso ter pessoas capazes financeiramente para bancar os altos custos de produção em impressoras modestas, de medidas menores que os atuais formatos stand e tabloide. Somente nas capitais e em grandes cidades do país jornais eram impressos em grandes impressoras, semiautomáticas e compostos por linotipos, cujas letras formavam textos utilizando chumbo derretido.

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Este foi um ciclos que o Jornal do Povo viveu incialmente quando era composto tipograficamente com letras de chumbo que formavam palavras, frases. A composição de palavras do jornal que dava forma a artigos e notícias, além de ser feita manualmente e ajustada em um instrumento manual chamado “componidor” dava início à sua paginação.

 Até aí, fechavam-se dois ciclos da produção de um jornal – a composição letra por letra, de palavras e frases e a própria paginação. Mas, as adversidades para assegurar a circulação do jornal não eram poucas, porque havia a necessidade de se formar tipógrafos. Depois, ter recursos para a aquisição de tipo, papel para impressão, tinta, pagamento de aluguel do prédio, luz, água e tudo mais para funcionamento e manutenção do lugar onde era impresso e onde abrigava sua sede, por mais modesta que tenha sido nestes longos anos.

AS LETRAS

A montagem do Jornal do Povo “letra a letra” era o único meio industrial disponível, conhecido por tipografia, em que as letras são “tipos”, pecinhas de chumbo que, juntas, formavam palavras, frases e textos. Para títulos e manchetes de primeira página usava-se tipos maiores, conhecidos por “garrafais”. Os textos eram compostos tipo a tipo e, depois, amarrados com barbante de algodão, dispostos em uma prancheta de madeira ou aço, quando, então eram corrigidos erros ortográficos antes de irem para a impressão de página por página na sempre velha “máquina de uma folha”, marca Minerva, que até hoje integra o acervo do Jornal do Povo, com a igualmente “idosa” guilhotina que refilava as folhas da edição impressa.

Quem não conheceu o método industrial da tipografia pode estar se perguntando: como eram publicadas as fotografias? O modo tipográfico exigia o uso de matrizes fabricadas em zinco e coladas em peças planas de madeira, chamadas de clichês. Se compor um texto letra a letra já era difícil, ter fotografias para todas as pautas ainda mais.

A fabricação de clichês era restrita a alguns profissionais no País. E cada um custava muito caro. Publicar uma reportagem com foto era quase um luxo. Anúncios ilustrados com imagens era possível apenas para empresas de médio e grande porte, por conta do custo do clichê. Um clichê que permitia a impressão de uma fotografia ou de um anúncio publicitário era usado diversas vezes.

MODERNIZOU

O segundo processo de produção de jornais foi o de linotipia – um sistema mais ágil onde as palavras e frases curtas passaram a ser compostas em teclados semelhantes ao de máquinas de datilografia. A letras eram fundidas chumbo derretido em caldeiras, em um sistema ainda artesanal, mas bem avançado em relação ao anterior.

O Jornal do Povo mudou sua composição, em 1985, para máquinas linotipos e sua impressão passou a ser feita por outra velha máquina plana da marca Augsburg, que imprimia duas páginas de uma só vez. Depois, adquiriu uma máquina de impressão em offset, marca Planeta, que marcou o ingresso do Jornal do Povo na modernidade de impressão de jornais.  

Simultaneamente, o Jornal do Povo passou ser composto em computador através de um programa adquirido nos Estados Unidos, chamado Page Maker. Outro grande desafio, vencido com muita obstinação. O software era inteiro em inglês e, por intuição, seguindo passo a passo os exemplos que oferecia gradativamente utilizado um computador 286 MHz, considerado instrumento de informática de nova geração em 1990, passou a ser diagramado totalmente neste sistema. Ao mesmo tempo, anúncios também passaram a ser elaborados em computadores.

Pelo sistema offset, as páginas são gravadas em uma chapa metálica de impressão fotográfica que possibilita a transferência de textos e imagens para um cilindro revestido com borracha especial para, em seguida, chegar ao papel de maneira rápida, colorida e com qualidade muito superior aos processos anteriores. Esse texto, inclusive, passou por este método antes de ser impresso, aqui, nesta página.

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