RÁDIOS
Três Lagoas, 26 de abril

Não force.

Leia o artigo do radialista e jornalista Orlando Ribeiro

Por Redação
27/07/2019 • 07h31
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Acabo de voltar de um passeio pela serra gaúcha e, interessante, como me sinto revigorado. Além da boa gastronomia, o que mais impressiona em Gramado e Canela é a paisagem, principalmente os canteiros de flores. Mas, espera aí, por aqui não há lugares bonitos? Não há flores? Sim, está tudo por aí, ao alcance de nossos olhos, nas praças, avenidas, nos jardins dos vizinhos... o problema é que a gente não vê. O corre-corre, os compromissos profissionais, o foco no trabalho, tudo isso nos tapa os olhos e a vida acaba nos afastando da natureza. Então, o que a gente passa a enxergar são só as paisagens urbanas, com as suas flores de concreto e florestas de paredes enormes. E o máximo de prazer que sentimos é quando respiramos, muito embora até o ar é condicionado. Assim, quando você sai para gozar uns dias de férias, tudo muda, porque nos damos conta, seja no Rio Grande do Sul ou até mesmo em São Paulo, damos de cara  com a amplitude das coisas, descortinamos campos vastos a perder de vista.

As viagens mais profundas são aquelas que nos tiram da rotina e, quando embarcamos nelas, conseguimos perceber o silêncio das coisas e, desculpe a repetição, esse silêncio vira cúmplice do silêncio da nossa alma. Se pudesse dar conselhos, algo que é muito perigoso, pois o que serve para mim, não se encaixa no outro, diria que é preciso buscar mais liberdade, a liberdade leve das horas inapreensíveis que passamos fazendo nada. Só caminhando, olhando vitrines, experimentando novos sabores, ouvindo novos sons, respirando o novo, o diferente, o fora de série. Sair da caixinha em que metemos a nossa vida e que, se a gente bobear, vira caixão do defunto de nosso viver. Teve um poeta que exaltou que “Deus anda à beira d’água”.

Diria mais, Deus anda à beira do céu, abarcando com seu olhar tudo aquilo que criou e deixou o Seu toque.

A que ponto chegamos? Na simples constatação de que é preciso, vez por outra, sair da rotina, mudar os pauzinhos que metodicamente enfileiramos no nosso cotidiano. Não dá para ser “caxias” o tempo todo, a repetir o bordão do ex-técnico de futebol Murici Ramalho: “aqui é trabalho”. Os outros caminhos da vida estão descobertos, falta apenas que a gente se aventure a (re)descobrir a estrada que nos leve para o jardim secreto que existe em cada coração. Fecho com belos e valiosos conselhos de Agostinho da Silva, para que se tornem seu lema de existir: não force nunca; seja paciente pescador neste rio do existir. Não force a arte, não force a vida, nem o amor, nem a morte. Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas. Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida.

*Orlando Ribeiro é jornalista e radialista.

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