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Três Lagoas, 20 de abril

Negros são principais vítimas da violência em Três Lagoas

Pesquisa Mapa da Violência apontou que, a cada assassinato de um branco, dois negros morrem

Por Arquivo
30/11/2012 • 07h43
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A cada branco assassinado, dois negros são vítimas de homicídio em Três Lagoas. A triste realidade foi apontada pela pesquisa Mapa da Violência 2012: As Cores da Violência, desenvolvida pelo Centro Brasileiro de Estudo Latino-Americano (Cebela), divulgada nesta semana.

O estudo, lançado anualmente, foi baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2010, comparados a informações do Ministério da Saúde e outros órgãos oficiais, e analisou a situação da violência nos mais de cinco mil municípios brasileiros.
De acordo com o levantamento, em Três Lagoas, o número de homicídios cometidos contra negros teve um aumento de 62,5% nos últimos quatro anos, saltando de nove, em 2006, para 24, em 2010. Neste mesmo ano, 13 brancos foram assassinados. A taxa de violência contra negros, segundo o estudo, é de 44,8% a cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto que contra brancos, é de 36,3%. Naquele ano, Três Lagoas tinha uma população de 101.791 habitantes.
Essa discrepância permanece a mesma quando relacionada aos assassinatos de jovens. Até 2010, o município tinha uma população jovem de 27,9 mil habitantes. O estudo mostrou que não houve aumento da violência contra negros, se comparado a 2006. No entanto, ainda existe a diferença entre raças. Em 2010, nove negros foram assassinados, contra quatro jovens brancos. A taxa de homicídios de jovens negros em Três Lagoas é de 57,7%, contra 33,3% de brancos.
PASSADO
Para Mateus Alves, fundador da exposição Toque Afro em Três Lagoa, os números de hoje são reflexos de um passado - não tão distante - de privações de direitos e falta de incentivo aos afrodescendentes brasileiros. “Há poucos dias, passou uma matéria em um jornal que dizia que, enquanto o branco leva cerca de 20 minutos para chegar ao trabalho, o negro leva mais de uma hora em grandes centros. Até nisso o negro é prejudicado, já que ele tem que morar na periferia. Hoje, a maior parte da população carcerária é negra. Isso tudo se deve aos erros do passado. Ao contrário de outros países, em que os escravos foram libertados e ganharam terras e incentivos, no Brasil, só abriram as portas das senzalas”, disparou.
Esse é um dos motivos que fazem Mateus apoiar a lei das cotas. De acordo com ele, o sistema que visa aumentar o acesso do negro ao ensino superior é um “mal necessário” para rever anos de esquecimento. “Se tivesse sido feito algo lá atrás, a condição do negro estaria bem melhor agora. Não teríamos tantos negros na criminalidade, por exemplo. A falta de oportunidade gera isso. Não que não haja negros estudando ou se formando. Eles existem. Mas ainda são poucos”.
Para Mateus, os governantes finalmente despertaram para a importância de analisar a condição do negro no Brasil. A medida, mesmo vindo tarde, ainda é válida, segundo ele. “Recentemente, o governo do Estado sancionou a lei dos elevadores, que proíbe a discriminação de qualquer tipo (cor, classe social, trabalhador etc.). Isso é mais um avanço”.
Mateus Alves é um dos líderes do movimento da cultura afro que começa a surgir no município, ao lado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Recentemente, o grupo promoveu a Noite Afro do Brasil, evento cultural para a valorização da cultura negra brasileira. “Por enquanto é só uma ideia, a de montar uma associação para debater mais a questão do negro em Três Lagoas. Mas ela está evoluindo, estamos juntando um grupo de pessoas interessadas, e acredito que sairá do papel”.
Há dois anos, a Câmara de Três Lagoas aprovou o projeto de lei que autorizava o Executivo a criação do Conselho do Negro na cidade. O projeto, porém, nunca foi sancionado, segundo Mateus.
Box:
MS destaca-se por baixos índices de vitimização de negros
O estudo ainda destacou Mato Grosso do Sul pelo baixo índice de vitimização de negros. Enquanto em outros estados brasileiros, este índice ultrapassava a média de 70% - com até 19 negros assassinados para cada branco morto, proporcionalmente -, em MS o índice ficou abaixo de 10%. No Estado, 367 negros foram assassinados em 2010, contra 255 brancos.

O número ficou atrás apenas do Paraná, onde a vitimização, diferença entre crimes praticados contra negros e brancos, é mínima.

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