RÁDIOS
Três Lagoas, 28 de março

O que teve no primeiro discurso de Bolsonaro?

Leia o artigo do jurista e escritor Luiz Flávio Gomes.

Por Redação
02/11/2018 • 08h09
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Que prosperem a verdade, o emprego, o controle fiscal, o empreendedorismo e a liberdade. Que venha um governo constitucional e democrático, que respeitará as leis. Tudo isso faz parte da esperança geral do povo brasileiro e está presente no primeiro discurso do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que teve apenas 73 linhas, 7 parágrafos e econômicas 929 palavras.

Prometeu-se, ademais, um “governo decente” (louvável). Mas duas palavras essenciais, que simbolizam a luta do nosso movimento Quero um Brasil Ético, não apareceram na fala inaugural: corrupção e educação. Frustrante!

Jamais haverá governo decente sem educação de qualidade para todos em período integral (pelo menos até os 18 anos) e sem um duro ataque à corrupção sistêmica assim como ao capitalismo de compadrio, constituído de laços bandidos entre servidores públicos e agentes ou corporações do mercado privado.
Sem um contundente ataque à cleptocracia brasileira (cleptos = ladrão; cracia = governo; cleptocracia é o governo de ladrões públicos mancomunados com ladrões do mercado privado) estaremos condenados ao fracasso eterno.

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Do candidato Fernando Haddad seria mesmo difícil esperar esse contundente ataque à corrupção em razão do histórico nebuloso das cúpulas do seu partido (PT). Do novo governo, que só foi eleito em virtude da ira dos eleitores contra a corrupção (ira que abateu o PT no Executivo assim como o PSDB e o MDB), espera-se algo muito diferente.

Que se preserve a autonomia do Ministério Público assim como a independência do Judiciário. Que a Polícia Federal não seja impedida de exercer suas funções investigativas. Que a mídia, os auditores fiscais e todas as demais instituições fiquem isentas de interferências indevidas.

Que funcione sem amarras um sistema eficaz de controles e contrapesos, aprimorando-se o profissionalismo dos agentes investigativos e da Justiça. Que os partidos políticos atingidos pelo tsunami das eleições de 2018 mudem suas organizações, adequando-se ao século 21.

Que se institua pela primeira vez no País um sistema de ensino de qualidade, para todos, em período integral, difundindo-se os valores éticos que sustentam as sociedades justas que não toleram de forma alguma a cleptocracia, constituída de governos bandidos protagonizados por agentes públicos corruptos assim como por empresas vampiras do mercado privado.

Que o governo “decente” de Bolsonaro não seja uma imitação sulamericana tropical dos populismos extravagantes de Viktor Orban na Hungria, de Rodrigo Duterte nas Filipinas e de Jimmy Morales na Guatemala.

“As vidas mais formosas são as que se situam dentro do modelo comum e humano, sem milagres nem extravagâncias” (Montaigne).

*Luiz Flávio Gomes é jurista e escritor.

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