RÁDIOS
Três Lagoas, 19 de abril

Quando Jupiá era absolutamente brasileira

Leia a edição especial de comemoração aos 70 anos do Jornal do Povo

Por Valdecir Cremon
19/08/2019 • 07h30
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Desde o final de 2016, quando o Brasil era presidido por Dilma Rousseff (PT), a hidrelétrica engenheiro Souza Dias, Jupiá, não é tão brasileira quanto antes disso. Projetada na década de 1950 e oficialmente inaugurada em 1974, a usina que contribuiu pesadamente para o desenvolvimento de Três Lagoas e de diversas cidades vizinhas, está nas mãos de uma empresa chinesa que possui envolvimento apenas institucional com os municípios.  

Nos tempos da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e de sucessivos governos estaduais de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, a usina funcionava como um pivô para o crescimento de diversos setores - não apenas o econômico. A empresa e suas subsidiárias, os governos e entidades se envolviam em projetos sociais, educacionais, de preservação da natureza e de cidadania como parte da compensação necessária às comunidades afetadas. A Cesp cumpriu papel importante no desenvolvimento das cidades vizinhas à usina pelas três décadas que geriu a usina.

Um dos eventos mais importantes, após a inauguração, foi a construção de uma eclusa nos paredões da hidrelétrica para permitir o trânsito de embarcações pela hidrovia Tietê-Paraná, a fim de alavancar e baratear o transporte de produtos industrializados ou agropecuários in natura em direção ao Porto de Santos, no litoral paulista. 

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Uma obra gigantesca, que consumiu milhões de dólares e que foi erguida com dedicação exclusiva à passagem de grandes carregamentos, como degraus ou um elevador para navios e barcaças. Subutilizada diante de sua importância e custo. A Cesp divulgou, na época, que as obras custaram US$ 173 milhões (R$ 700 milhões, aproximadamente, em valor atualizado), em duas etapas, entre 1974 e a inauguração. 

Na inauguração, em 1988, o Jornal do Povo cobriu evento que reuniu os governadores Mário Covas, de São Paulo, e Wilson Barbosa Martins, de Mato Grosso do Suil, além de ministros e secretários das áreas de transporte e desenvolvimento dos dois estados. A inauguração ocorreu com a passagem de uma embarcação de passageiros, no trajeto entre o reservatório da usina e o lado sul-mato-grossense, com autoridades e convidados a bordo.  A solenidade contou com a apresentação de estudos de viabilidade da ligação de São Paulo e de Mato Grosso do Sul com países do Mercosul por meio do transporte hidroviário. A finalidade era baratear o custo do transporte e dar utilização à hidrovia, com interligação facilitada por eclusas em outras hidrelétricas pelo caminho. 

O então ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, comparou o custo do uso do transporte pelo rio com o feito por rodovias. Segundo ele, pela água seria possível viajar trecho três vezes maior que por rodovias com a mesma quantidade de combustível.

 No Senado, o ex-senador Ramez Tebet previu que 10 milhões de toneladas de cargas passariam pela hidrovia, com uso da eclusa de Jupiá, em 2010. Nem um quinto se confirmou, no período, devido à redução do nível da água, entre 2004 e 2007, e pelo início do processo de privatização que repassou a usina à empresa da China.

 

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