RÁDIOS
Três Lagoas, 25 de abril

‘Temos de saber como lidar com as novas gerações’

Interrogação >O que falar para os jovens e conecta-los com os valores perenes?

Por Gabriela Couto
13/07/2019 • 08h16
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Mário Sérgio Cortella é um dos filósofos mais respeitados do país, com grande atuação fora dele. Seus livros e palestras revelam, sem reservas, como são e como deveriam ser as relações humanas, no trabalho e na sociedade em geral. Na palestra “Conflitos de gerações”, apresentada nesta sexta-feira (12), no Diamond Hall, em Campo Grande, em promoção do Grupo RCN de Comunicação, Cortella responde a questionamentos comuns de hoje, como: há meios de conectar a geração atual com valores perenes?

JP - Como falar às novas gerações? 
Cortella - Não pode esquecer que as novas gerações não são um encargo. São um patrimônio. Temos que lidar com as novas gerações como sendo não algo que a gente carrega nas costas, como se fosse um jacá cheio de pedra. Ao contrário. Olhar para aquilo que elas colaboram, recriam, reinventam, mas, dão trabalho. Conflito é diferente de confronto. Conflito é divergência, discussão, debate de ideias. Confronto acaba gerando danos. Numa família sempre há conflito. Pessoas que não pensam como eu me fazem pensar melhor para que eu saia do que estava acomodado. Gente mais nova que eu sabe muita coisa que eu não sei. E não sabe muita coisa que eu sei.

 JP - O que falta para haver mais compreensão? 
Cortella - A criação de pontes. É muito comum que os pais perguntem para os filhos o “que aprenderam hoje?”. Isso é auditoria. Quer chegar no mesmo lugar, mas de maneira mais afetiva basta perguntar “o que pode me ensinar?” O que muda é a abordagem. Jovens gostam de ensinar e se sentem valorizados. A melhor maneira de criar uma ponte é pedir para ele ensinar algo. Qualquer um de nós gosta de ensinar e se sente bem em fazê-lo. Se eu começo a criar pontes e abro a possibilidade de ser ensinado, ele começa a ficar mais disponível também a prestar atenção no que eu quero dizer. Se a gente dinamita as pontes, estilhaça a capacidade e cria uma postura pontifical de dizer que eles não entendem nada, sempre desqualificando a outra pessoa. Não dá para criar filhos, hoje, nem lidar com as novas gerações como eu eduquei meus filhos nem meus pais educaram os filhos deles. É preciso ter mais inteligência. 

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JP - O que diria aos jovens hoje com relação a família, trabalho e amor? 
Cortella - A ideia é que não tenha uma vida que seja desperdiçada. Amor é uma construção, uma obra que vai se fazendo e que não pode ser banalizada. A família é um ninho afetivo e precisa sê-lo. Muitas vezes não se tem a família que se desejaria e talvez é preciso fazer um esforço para fazê-la desse modo ou até construir outro modo de ser família. E é claro que o trabalho é aquilo que permite que a nossa vida ganhe condições para que a família se sustente e o amor não seja descartado.

JP - Como avalia a relação dos jovens, com os professores? 
Cortella - As novas tecnologias trouxeram um certo desencantamento com aquilo que era escola mais antiga. Uma parte daquilo que a escola trazia hoje se encontra disponível com as novas tecnologias. Por isso, nós, professores, temos que ser melhor formados, com melhores condições de trabalho, para que a gente possa ganhar outros campos de encantamento em relação as temáticas, aos procedimentos. Isso significa que não é a tecnologia que torna uma aula mais contemporânea, mas a recusa a essa tecnologia faz com que a escola fique ultrapassada. 

JP - As pessoas estão com preguiça pensar? Criar? 
Cortella - A gente precisa mexer mais com isso e sair de uma certa acomodação, porque embora ela seja confortável é que nem água parada. Água parada fede.

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