Pela 2° vez em 40 anos de história, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) vai realizar eleições para decidir quem será o presidente da instituição que representa a classe agropecuária de Mato Grosso do Sul. Serão duas chapas: uma encabeçada pelo atual presidente, Maurício Saito, e outra liderada por Terezinha Candido, veterinária, produtora rural e empresária do segmento rural, além de coordenadora do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Terezinha também é membro da diretoria da Famasul, com cargo de secretária. Entre todos detalhes, a candidata pode ser a primeira mulher a presidir a federação. A eleição está prevista para 16 de junho.
Jornal do Povo - A sra. pode ser a primeira mulher a presidir a Famasul, e isto tem acalorado os debates sobre a disputa. Isso já fazia parte de um projeto pessoal?
Terezinha Candido - Não era um projeto de vida ser presidente da Famasul, mas a necessidade me forçou. Ou a gente enfrenta os problemas do setor ou vamos ver os produtores assim, sempre achando que não são atendidos.
JP - Por que ser candidata em um momento de "necessidade", como a sra. citou?
Terezinha - O total abandono aos sindicatos rurais deixados sem repasses previstos legalmente pelo Senar em Mato Grosso do Sul, especialmente com o fim da contribuição sindical obrigatória e a discordância dos posicionamentos de seu adversário e da omissão diante das políticas econômicas em prejuízo da classe produtora, como por exemplo o ICMS do diesel, Funrural, ITR, Fundersul, ITCD.
JP - Em uma eventual gestão de sua presidência na Famasul, como será sua atuação diante da cobrança de impostos, em negociações com governos?
Terezinha - A Famasul não tem a caneta. Mas, tem a voz. Mas, para ela ter a voz, ela precisa escutar o que o produtor rural precisa e saber das demandas dele. E aí construir um ambiente que favoreça o produtor junto ao governo do Estado.
JP - Quer dizer que, hoje, a Famasul não defende os interesses do produtor junto ao governo?
Terezinha - A federação está sendo pautada pelo governo do Estado. É uma entidade governista. E o produtor rural, que é quem paga todo o processo, fica de fora do processo.
JP - A sra. tem um exemplo específico de onde, um programa público, por exemplo, em que o governo tenha deixado de atuar ao lado do produtor?
Terezinha - O programa do Novilho Precoce. Esse programa precisava ser modernizado e a Famasul tinha que negociar em favor do produtor. E, na verdade, ela negociou a pauta em favor do governo. E eu, como diretora da Famasul, vi que a negociação fugiu dos princípios do produtor.
JP - A sra. atuou na campanha de Maurício Saito. Por que agora é candidata de oposição?
Terezinha - Eu trabalhei com os sindicatos em todo o Estado pela eleição dele porque acreditava em uma gestão moderna. Hoje, vejo que não é nada disso. E como ele mesmo diz, o regime é presidencialista. Ou seja, sem nenhuma representação do produtor na diretoria da Famasul. Por isso, com 22 anos de atuação, resolvi ser candidata.
JP - A sra. e Maurício Saito estão rompidos na direção da Famasul?
Terezinha - Sim. Exatamente isso. Há seis meses eu sou oposição. Mas, há mais tempo venho tentando implantar medidas favoráveis ao setor. Como não foi possível, mesmo com minha resiliência, vejo que não é possível.