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Mato Grosso do Sul, 18 de abril

"As mulheres ficarão passadas", diz Glória Perez sobre trama

A autora aposta na comparação entre os intocáveis de lá - pessoas excluídas do convívio social por suas origens que herdam da família

Por Redação
17/01/2009 • 09h59
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Refletir contra preconceitos em suas novelas é um dos hábitos de Glória Perez. E, em Caminho das Índias, decidiu ir além. A autora aposta na comparação entre os intocáveis de lá - pessoas excluídas do convívio social por suas origens que herdam da família - e os doentes mentais daqui, nossos "intocáveis", em sua opinião.
"Eles também estão à margem da sociedade. Sofrem com a indiferença e até com o medo dos que os cercam", reflete Glória.

Para não fugir da temática indiana, a autora também pretende apresentar uma proposta nova de mocinhos: o casal Maya e Bahuan, de Juliana Paes e Márcio Garcia, não trocarão beijos apaixonados. "Introduzi o quase beijo, que é muito melhor e recupera o erótico, que anda em falta entre as pessoas", defende.

O que a fez apostar na Índia para prender a atenção dos telespectadores?
Você só escreve sobre o que tem interesse. E eu gosto do diferente, de saber como outras sociedades vivem. Novela é um trabalho longo e usar um tema com o qual você não tem afinidade é terrível. O que faço é lutar para desfazer o preconceito contra culturas que vêem o mundo de forma diferente. E que nem por isso são melhores ou piores que a nossa.

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Desta vez você escolheu discutir as doenças mentais. Qual é a relação delas com a temática central?
Assim como na Índia existem os intocáveis, que são excluídos pela sociedade, também temos aqui. É como se no Brasil as pessoas que sofrem com esses problemas fossem os nossos "intocáveis". Muitos têm medo deles, não querem chegar perto, acham que podem ser agredidos ou contaminados de alguma forma.

Para falar dos intocáveis da Índia, você tem de abordar o sistema de castas, que não é conhecido pelo grande público. Tem receio que os telespectadores não entendam o conflito central?
O sistema de castas é uma coisa que a novela vai tentar explicar e que eu sei que é realmente difícil entender. Numa sociedade de classes, a diferença entre as pessoas está no "ter". Quem nasce pobre, mas ganha na loteria, fica bem. No sistema de castas, você pode ganhar dez vezes na loteria e não vai adiantar. O problema não é "ter", e sim "ser". Achei instigante porque é um impedimento de romance que nunca vi mostrado nas nossas novelas. E é uma história de amor. O sentimento é o mesmo, isso independe do país, da raça ou da religião.

Mas os mocinhos não se beijam, ou seja, o público não tem uma referência visual do romance dos dois. Caso o resultado não seja bom, isso pode mudar?
Beija-se nas cenas do Brasil, mas na Índia decidi fazer diferente. Introduzi o "quase beijo", que é muito sensual. As mulheres vão ficar "passadas". Posso garantir que vale mais que o próprio beijo. É o mesmo costume usado nos filmes indianos de Bollywood (nome da indústria de cinema da Índia falado em hindi). Achei interessante porque, além de marcar essa diferença com os personagens do Brasil, recupera o erótico, que anda em falta entre as pessoas.

Caso a história não emplaque, você tem algum personagem ou núcleo guardado para movimentar a história? Ou simplesmente não pensa nessa possibilidade?
Minhas novelas não têm só uma trama central. São duas, uma aqui e outra fora do Brasil. E dentro delas, várias distintas. Sou da linha de Janete Clair, aprendi com ela. A história é grande e exige muitos personagens. Quando você fala de uma cultura diferente, ela só vai ser entendida se você tiver o contraponto. Pode até ser que não emplaque, mas a Índia já está no imaginário popular. E, quando você vê um romance passado no Japão, do outro lado do mundo, dá para se emocionar. Os impedimentos que para nós são terríveis, para eles são bobos. E os que para eles são inaceitáveis, para nós nem existem. Acho que o principal é entender que os dois se amam, querem ficar juntos e algo não deixa. Não acreditar no impedimento ou achá-lo tolo, isso não interessa. O que importa é acreditar nos sentimentos e, com a mesma verdade, que aquele pai e aquela sociedade não podem aceitar tal situação.

 

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