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Mato Grosso do Sul, 19 de abril

Os perigos do abuso do álcool para as mulheres

O álcool é uma droga altamente popular e, por mais que faça parte do cotidiano de muitas de nós, pode virar um problema na vida de algumas pessoas.

Por Redação
11/09/2017 • 09h07
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Quem não gosta de tomar uma cervejinha pós-expediente, um drinque com as amigas ou aquele vinho romântico com o boy? O álcool está tão presente na nossa vida que às vezes a gente até esquece que a substância é uma droga. Lícita, sim, mas que pode causar dependência. De acordo com o Relatório Brasileiro sobre Drogas de 2009, o uso e a dependência de álcool no país são maiores entre homens do que entre mulheres. Apesar disso, a diferença vem diminuindo. O estudo mostra, por exemplo, que na população de 12 a 17 anos a proporção de meninas que fazem uso de álcool (50,8%) já é muito próxima da de meninos (52,8%). “A mulher hoje consome muito mais álcool do que consumia antes, muito mais cedo e de forma bem mais lesiva”, afirma Gisele Aleluia, psicóloga e terapeuta de família especialista no tratamento da dependência de álcool e drogas. Ela explica que a absorção do álcool no corpo feminino é diferente da no dos homens. “A metabolização nas mulheres é mais lenta, temos menos água no corpo, a concentração de álcool fica mais alta”, diz. Somos fisicamente mais vulneráveis, e os prejuízos clínicos aparecem para nós mais cedo que para os homens. E, se o alcoolismo como um todo é estigmatizado na sociedade, o alcoolismo feminino é, claro, mais ainda. Só que o preconceito não faz as mulheres beberem menos: faz com que se escondam mais. “Elas pedem ajuda depois, porque a dependência entre as mulheres é muito disfarçada”, diz Gisele. Quando a maioria delas procura ajuda, já está com quadros mais graves que os homens. Isso é, infelizmente, mais um traço do machismo enraizado na nossa sociedade: “Se tratar é deixar o outro cuidar de você, e muitas vezes a mulher não consegue fazer isso”, afirma. A questão do papel do cuidado também aparece, segundo ela, no apoio ao tratamento: geralmente a esposa acompanha o marido, mas a recíproca não é verdadeira — muitas vezes, o companheiro já nem está mais em casa. Identificando o problema Toda a compreensão que a gente faz do uso de drogas, legais ou ilegais, tem que considerar três fatores. “É um triângulo. Em uma das pontas está o indivíduo, com sua subjetividade, história, forma de estar no mundo. Na segunda ponta, tem a substância: sua característica, quantidade, frequência e forma de uso. E, na terceira ponta, o contexto sociocultural familiar”, diz a psicóloga Cláudia Merçon, do Serviço de Estudos e Atenção a Usuários de Álcool e Outras Drogas (Sead), do Hospital Universitário de Brasília. Um diagnóstico bem-feito é individualizado, leva em conta a singularidade da pessoa e de seu contexto de vida. Ao contrário do que se pensa, a frequência e a quantidade da substância não são os únicos fatores que importam. “Há casos de pessoas que fazem uso esporádico, mas quando fazem é em grande quantidade e acabam tendo prejuízo”, afirma Priscila Estrela, psicóloga da Diretoria de Saúde Mental do Distrito Federal. Por exemplo, você usa uma vez por semana, mas daí exagera e se expõe a muitos riscos, dirige embriagada, não consegue ir trabalhar no dia seguinte, se envolve em brigas… Existem também pessoas que usam o álcool excessivamente e não se tornam dependentes.

Uma maneira de fazer uma autoavaliação é pensar no custo e na importância que o álcool tem em nossa vida. Não é problema ele fazer parte de um cardápio das coisas que trazem prazer. Mas, se ele estiver no topo do ranking, se passa a ser obrigatório para a diversão ou para aplacar a angústia, sinal de que algo não vai bem. “Buscar fontes diversificadas de prazer é algo que todo mundo deveria fazer, até como prevenção de uma dependência”, afirma Gisele. Ela sugere, por exemplo, experimentar sair para a balada um dia e ficar só no refrigerante ou na água. Ou, se você sempre bebe antes do sexo, fazer sem. Aliás, aquele vinhozinho que desinibe pode ser bom, mas transar 100% consciente tem que ser gostoso também. Até porque álcool em excesso pode causar falta de lubrificação nas mulheres e disfunção erétil nos caras.

Procurando ajuda

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A dependência é muitas vezes uma resposta para algo que não vai bem na sua vida. “A maioria das pessoas usa alguma droga em algum momento da vida. Agora, quando é que essa droga fica? Quando ela tem um lugar, uma função”, diz Cláudia. Esse lugar é dado por cada um e tem que ser olhado no tratamento. Uma coisa é certa: parar de beber não é fácil. Exige muito do usuário e da rede em volta dele. Muitas vezes, as pessoas que convivem com dependentes de álcool não conseguem entender quão grande é esse desafio. “Às vezes a pessoa está com dificuldades, e o marido ou a família chamam de ‘falta de vergonha’, dizem que ‘bebe porque quer’. Não entendem que a pessoa está mal”, afirma Cláudia. Por causa da dificuldade, é muito importante procurar acompanhamento de um profissional especializado. “Pedir ajuda não é uma questão de fraqueza, é uma questão de inteligência. Todo mundo precisa de ajuda em algum momento da vida”, diz Gisele.

Quanto mais cedo, maior a possibilidade de o quadro não piorar. Sem falar que ter alguém qualificado com quem se abrir sempre faz bem.

E você?

Hora de pensar sobre a sua ligação com o álcool. Não são perguntas para tirar uma conclusão, mas para refletir sobre o tema:

Relações: como você está se relacionando com os outros? Você sente que toda vez que consome álcool acaba brigando com alguém próximo ou se envolvendo em confusão? Pessoas próximas reclamam de seu comportamento quando bebe e isso te incomoda? Você sente que se afastou de amigos, ou eles se afastaram, por causa disso?

Compromissos: é uma frequência em sua vida perder ou se atrasar para compromissos por ter bebido demais, estar de ressaca? Você sente que o uso atrapalha seu desempenho ou a frequência no trabalho, seus estudos e atividades sociais? Como está programando seu lazer?

Uso: você tem costume de beber pela manhã? Quando para de beber, sente sintomas como dor de cabeça, sudorese, tremor e enjoo, que passam quando bebe? Se bebe muito numa noite, no outro dia precisa beber pela manhã para passar o mal-estar? Dinheiro: pense em como está gastando seu dinheiro. Você faz dívidas por causa desse uso ou gasta muito mais do que planeja? Acontece com frequência perder a noção de quanto bebeu e quanto pagou por isso?

A intenção dessas perguntas não é dar um diagnóstico, mas estimular um autocuidado, algo essencial para identificar possíveis problemas. “A mulher precisa olhar para si mesma, para sua situação, seu corpo, suas emoções e seus sentimentos. Se ela faz isso, consegue avaliar o próprio contexto de vida e tem condição de enxergar as situações de risco que está enfrentando e buscar estratégias para se proteger”, diz a psicóloga Cláudia Merçon.

(mdemulher)

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