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Mato Grosso do Sul, 16 de abril

Por que é tão difícil largar o telefone? A resposta está no

Ao menor sinal de tédio, estamos lá, checando o celular

Por Redação
19/07/2019 • 12h24
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Não é preciso recorrer aos spoilers da nova temporada de Black Mirror(série britânica cujo nome faz alusão às telas de smartphones e traz uma visão sombria sobre os impactos da era digital nas nossas vidas) para falar sobre a crescente dependência que desenvolvemos por esses pequenos computadores pessoais: ao menor sinal de tédio, estamos lá, checando o celular.

Embora os seres humanos sejam essencialmente sociais, sua rede de vínculos tende a conter cerca de 150 indivíduos, número muito menor que os dois bilhões de conexões potenciais que carregamos em nossos bolsos. O que poderia ser uma grande vantagem de comunicação - e de fato é - tem revelado também enormes custos. Estudos já mostram ligação entre o uso de smartphones e aumento dos níveis de ansiedade e depressão, má qualidade do sono e aumento do risco de acidentes de carro e morte.

Embora muitos de nós já tenham despertado para a importância do uso consciente e restrito desses aparelhos, por que para a maioria ainda não?

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Podemos encontrar alguma explicação na neurociência. Estudos com exames de ressonância magnética funcional mostraram que o uso prolongado de smartphones pode afetar regiões semelhantes àquelas envolvidas na dependência química. A dopamina é um neurotransmissor produzido por nossos cérebros que desempenha um papel protagonista no comportamento motivador. Os sistemas de recompensa dopaminérgicos se tornam ativos quando antecipam ou experimentam eventos recompensadores, motivando-nos a repetí-los. Embora não seja tão intenso quanto o consumo de drogas, os estímulos sociais positivos - como rostos sorridentes, reconhecimento por parte dos colegas, mensagens de entes queridos  - resultam, de maneira semelhante, em liberação de dopamina, reforçando qualquer comportamento que o precedeu.

As redes sociais, a cada notificação, mensagem de texto ou curtida, nos fornecem uma oferta ilimitada de estímulos sociais positivos, seguida de influxo de dopamina. Os aplicativos de mídia social aproveitam essa estratégia de aprendizado orientado por esse neurotransmissor, implementando um padrão de recompensas otimizado para nos manter envolvidos o máximo possível, até que nos tornemos usuários habituais.

Por outro lado, sabemos que nem todo estímulo social advindo das redes é positivo. Projetamos nas mídias sociais, quase sempre, versões idealizadas de nós mesmos, que não refletem a vida como ela é, com imperfeições e dificuldades. O ideal de felicidade propagado nas redes pode ocultar tantas vezes, ainda que não intencionalmente, o sentimento de fracasso e frustração em seus receptores.

Para tornar a questão ainda mais complexa, na era digital, passamos a viver a supremacia da imagem, na qual a linguagem escrita e falada - ferramenta primordial da experiência humana - perde progressivamente espaço para selfies e emojis, limitando a expressão de emoções mais complexas e a elaboração de conflitos. Mas como humanizar a experiência digital? Ou melhor, como utilizar as ferramentas digitais a nosso serviço e não em detrimento de nosso próprio bem estar? Afinal, também gostamos de desfrutar de todos os seus benefícios e potencialidades.

Limitar o tempo de uso do smartphone ao longo do dia, sobretudo durante o tabalho e antes de dormir, pode ser um primeiro passo. Cabe sempre recordar que seu uso no trânsito, além de perigoso, é proscrito. A mesa de jantar é uma boa oportunidade para todos guardarem seus celulares e abrirem espaço para a conversa olho a olho. Entender que as redes sociais consistem em um recorte idealizado da vida e não o seu espelho é também importante. Desfrutar momentos sem a urgência de compartilhá-los a todo minuto nas redes pode oferecer instantes genuínos de prazer, troca e pertencimento. Parece óbvio, mas talvez seja um desafio para muitos na contemporaneidade. Aliás, lembre-se que os bons e velhos vínculos analógicos podem ser menores que o número de seguidores que você acumula nas redes, mas certamente maiores no potencial de te conectar verdadeiramente ao outro e a si mesmo.

Fonte: vogue

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